1. As nossas crianças sentem, e sentem muito.
As crianças com Autismo têm dificuldades em lidar com estímulos internos e externos. Muitas pessoas julgam a criança com Autismo como se estivesse “ausente” quando o que realmente acontece é que ela está “hiper-presente”.
Da mesma forma que algumas ouvem sons que nós não ouvimos, outras cheiram cheiros que nós não cheiramos… elas sentem com uma intensidade que nós não sentimos.
Acontece frequentemente, quando tenho dias de maior stress, a minha enteada aparecer desde a outra ponta da casa para me vir dar um beijo ou dizer-me que gosta muito de mim – assim, “aparentemente” do nada. Não é por acaso que isto acontece, a sua hiper-sensibilidade também neste sentido é relevante.
Então, se nós dizemos, falamos, sentimos e acreditamos que a nossa criança tem potencial para se desenvolver… estaremos a passar-lhe a mensagem “Estou contigo, acredito em ti” e ela assim o perceberá.
Por outro lado, se sentirmos, acreditarmos que não vai desenvolver… estaríamos a passar-lhe a mensagem “Não estou contigo, não te percebo, não acredito em ti”.
Como acha que será mais fácil construir uma relação com a sua criança? Se ela sentir que acredita nela? Ou se ela sentir que não acredita nela?
2. Mostrar interesse genuíno fará com que sejamos mais interessantes para as nossas crianças.
Se não acreditarmos no potencial da nossa criança, também não estaremos muito disponíveis para ajudar. Não me refiro a ajudar em caso de emergência ou para fazer festinhas, refiro-me a mostrar à nossa criança que queremos ajudar mesmo. Que ela sinta que nós estamos ali para ela a 110%, como fazem por exemplo um casal de recém casados (sim com aquele brilho nos olhos) 😉
Se mostramos proactivamente que estamos ali (não me refiro a simular interesse, refiro-me a senti-lo verdadeira e genuinamente!) à espera de um sinal para entrar no jogo, nas motivações, nas brincadeiras da nossa criança, as probabilidades da nossa criança querer socializar connosco serão muito maiores. E não é isso que queremos que a nossa criança aprenda a fazer por motivação própria?
Se mostrarmos que queremos ajudar – respeitando as motivações e necessidades da criança – seremos muito mais atrativos para a nossa criança. Ela terá um maior interesse em relacionar-se connosco…
3. A cada instante iremos puxar por eles
Infelizmente existem muitas pessoas que ainda acham que as possibilidades de evolução das pessoas com Autismo é muito limitada.
Se eu achar que a minha criança não vai evoluir, ou se o fizer será de forma muito limitada, também não vou pôr os recursos necessários para ajuda-la a evoluir.
Explico: Se acharmos que a nossa criança não pode evoluir, não vamos focar na evolução da nossa criança – iremos focar só na sua manutenção (o que levará a manter o autismo e não a reduzi-lo).
Da mesma maneira, se eu acreditar que a minha criança irá evoluir no futuro, a cada instante, estarei a tentar novas soluções e possibilidades para isto acontecer, aumentando assim radicalmente as verdadeiras probabilidades da minha criança evoluir.
4. Acreditar é o primeiro passo para termos motivação para que se desenvolvam
As nossas crianças não costumam levantar a mão e pedir que façamos o que elas precisam, assim, o trabalho com elas terá que partir da nossa motivação. A creditar na evolução delas dar-nos-á a motivação para trabalhar com elas cada vez mais, aproveitando cada instante, tornando um círculo virtuoso. Acreditar – > estar motivado para fazer -> fazer -> ver resultados (ou não) – > motivação para fazer mais – > fazer -> . ..
Infelizmente vemos com frequência pais e profissionais entrar em círculos viciosos: não acreditar -> não estar motivado para fazer -> não fazer -> não ver resultados – > falta de motivação -> não fazer – > …
Sem motivação, será difícil ajudá-las a desenvolver; e sem acreditar, a motivação não pode existir.
5. Porque quando acreditamos sentimos mais paz, mais amor e mais felicidade.
Como te sentes melhor: A acreditar e estar com atitude otimista perante o futuro da tua criança? Ou ter uma atitude fatalista e derrotista? Todos nos sentimos melhor a acreditar, e isto reflecte-se na nossa disponibilidade para apoiar as nossas crianças.
E mesmo se não trabalhamos diretamente com elas, mas nos sentirmos felizes, confiantes e optimistas, elas sentem o nosso estado de espírito, e este sendo positivo, só pode ser bom.
Não valeria a pena mesmo que fosse só por este simples motivo?
Conclusão
Ninguém tem uma bola de cristal para dizer o que uma criança irá conseguir ou o que não irá conseguir. Vale a pena tentar, com optimismo, energia e alegria – ficarão surpreendidos do poder que tem, acreditar nas nossas crianças.