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Visão de uma Nutricionista: alimentação e autismo

20 de Dezembro de 2017 – vencerautismo

As crianças com autismo podem beneficiar de uma dieta sem caseína (uma proteína do leite), sem glúten e sem soja e muito rica em ácidos gordos ómega 3.

O que é que o autismo e outras doenças do espetro do autismo têm a ver com a alimentação?

Para responder a essa questão gosto de citar um psiquiatra que ouvi numa apresentação e que diz… Na anatomia, os profissionais de saúde se esquecem que existe pescoço e que a cabeça está ligada ao corpo.

Algumas doenças psiquiátricas e neurológicas envolvem apenas o cérebro, mas outras não – é o caso do autismo. E a verdade é que o cérebro funciona à custa do corpo. Isto para dizer que os neurotransmissores, as substâncias químicas usadas na comunicação entre neurónios, são nutrientes… E toda a gente sabe que quando são retirados alguns nutrientes importantes o cérebro deixa de funcionar tão bem. Aumentar uns e retirar outros também tem influência.

O que sabemos…

O que sabemos é que as crianças com autismo têm alterações bioquímicas e fisiológicas específicas. E não conseguem lidar com certos alimentos, que devem ser retirados. Bem como, precisam de doses mais elevadas de outros nutrientes, que devem ser acrescentados.

Que alimentos devemos eliminar?

Eliminamos compostos que alteram a comunicação cerebral. Sabemos que a grande maioria destas crianças reage ao glúten e à caseína (uma proteína que existe no leite). Verificamos que, retirando o glúten e a caseína, entre sessenta a setenta por cento registam melhorias. É muito significativo.

Mas também recorrem a suplementos alimentares. Quais?

A maior parte das crianças com autismo precisa de fazer ómega 3, sobretudo EPA (ácido eicosapentaenóico, que é um potente anti-inflamatório), e DHA (ácido docosahexaenóico, fundamental para os neurónios e estrutura cerebral). Algumas também têm deficiência de magnésio (o que contribui para a irritabilidade e excitação) e de vitamina B6, e um enorme stress oxidativo, o que altera o funcionamento celular e a expressão genética.

Qual é o princípio da abordagem biomédica do autismo?

Retirar o que faz mal, repor o que faz falta e reequilibrar o que está desequilibrado. No tratamento do autismo é fundamental a interdisciplinaridade – apoio médico (pedopsiquiatria e neurologia, mas também gastrenterologia, imunologia, alergologia), terapias comportamentais, nutrição e muita compreensão, carinho, amor e aceitação.

Retirar alimentos é às cegas ou fazem-se exames de diagnóstico?

Fazem-se análises ao sangue, urina e fezes e faz-se um exame físico (pele, unhas, cabelo). Mas importa dizer que não há um protocolo em prática a todas as crianças pois, se somos diferentes uns dos outros, nas crianças com autismo essas diferenças são ainda mais marcantes e é difícil encontrar um grupo homogéneo. Só a dieta sem caseína e sem glúten é que é transversal, os suplementos e as terapias comportamentais variam de criança para criança.

Certo é que numa primeira fase se retira tudo o que é lixo alimentar, especialmente corantes, aditivos e pesticidas. Na segunda etapa, retiramos o glúten (existe no trigo, cevada, centeio e aveia) e a caseína (todos os lacticínios). Os pais devem ser muito rigorosos neste regime para que, seis meses depois, se possa avaliar a eficácia da dieta. Os dados que existem mostram melhoria em sessenta a setenta por cento das crianças.

Quem tiver um filho com autismo pode experimentar estas alterações sem correr riscos?

Retirar o glúten não comporta nenhum risco nutricional – é só substituir um cereal por outro sem glúten, por exemplo milho, arroz, trigo-sarraceno – mas é importante que os pais saibam que com a caseína já é diferente. É que o cálcio e a proteína, habitualmente fornecidos pelo leite e fundamentais para o desenvolvimento das crianças, têm de ser compensados. E para isso já é preciso apoio de um profissional. Portanto, direi que, na primeira fase, quando é preciso trocar os cereais, pode bastar a informação e o apoio entre pais, mas depois é preciso um nutricionista.

O que acontece quando as crianças voltam a ingerir glúten e caseína?

As alterações de comportamento, alguns sintomas e perturbações gastrointestinais, da pele, as alergias, a inflamação cerebral, etc., podem voltar a agravar-se. A susceptibilidade está lá, a alimentação pode aumentá-la ou neutralizá-la. Os alimentos têm o poder de modular inúmeras funções orgânicas, a comunicação hormonal e a expressão genética.

Fonte aqui.

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