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Autismo e o tempo em frente ao ecrã

29 de Dezembro de 2017 – vencerautismo

11 razões pelas quais as crianças com autismo são extra vulneráveis aos efeitos secundários do tempo frente ao ecrã e da dependência tecnológica:

Razão 1

As crianças com autismo tendem a ter baixa melatonina e perturbações do sono [1] e o tempo frente ao ecrã reprime a mesma e perturba o sono. [2] Além da regulação do sono e do relógio biológico… A melatonina também ajuda a ajustar as hormonas e a química no cérebro, equilibra o sistema imunológico e mantém a inflamação sob controlo.

Razão 2

Crianças com autismo são propensas a problemas de regulação da excitação, manifestadas numa resposta de stress exagerada, desregulação emocional ou tendência a serem mais ou menos estimulados [3]. O tempo frente ao ecrã aumenta o stress agudo e crónico, provoca hiperexcitação, desregulação emocional e produz hiperestimulação. [4]

Razão 3

O autismo está associado com a inflamação do sistema nervoso [5] e o tempo frente ao ecrã pode aumentar a inflamação através de uma variedade de mecanismos incluindo o aumento das hormonas do stress, a repressão da melatonina e a falta de revitalização do sono. [6] A luz dos ecrãs, durante a noite, também reprime o sono REM (sono mais leve, prevalente no último terço da noite), uma fase em que o cérebro “limpa a casa”. [7]

Razão 4

O cérebro autista tende a estar sob conectado – menos integrado e mais compartimentalizado [8]. E o tempo frente ao ecrã impede a integração total do cérebro;

Razão 5

As crianças com autismo têm deficits sociais e comunicacionais, como… A dificuldade em manter o contacto visual, a dificuldade em ler as expressões faciais e a linguagem corporal, uma baixa empatia e a dificuldade comunicacional [11]. O tempo frente ao ecrã dificulta o desenvolvimento dessas mesmas aptidões – mesmo em crianças e adolescentes que não têm autismo. [12] O tempo frente ao ecrã aparenta competir diretamente com recompensas sociais, incluindo o contacto visual – fator essencial para o desenvolvimento cerebral. [13] Por último, a visualização do ecrã e mesmo os antecedentes televisivos tem demostrado atrasar a aprendizagem de línguas. [14]

Razão 6

Crianças com autismo são mais propensas à ansiedade [15] – incluindo traços obsessivos-compulsivos, ansiedade social – e o tempo frente ao ecrã está associado com um risco acrescido para a POC (Perturbação Obsessiva-compulsiva) e ansiedade social [16], contribuindo ao mesmo tempo para uma estimulação elevada e fracas estratégias de coping [17]. Além disso, a ansiedade no autismo tem estado associado a anomalias da síntese da serotonina e da atividade da amígdala [18]. E ambas as regulações da serotonina e as alterações da amígdala têm estado envolvidas no tempo frente ao ecrã. [19]

Razão 7

Frequentemente, as crianças com autismo têm questões sensoriais e motoras assim como tiques. O tempo frente ao ecrã tem estado associado a atrasos sensoriais e motores e piorando o processo sensorial [21]. E pode apressar ou piorar tiques vocais e motores devido à libertação de dopamina.

Razão 8

Pessoas com autismo são típica e altamente atraídas a tecnologias com base em ecrãs e têm não só um risco acrescido de desenvolverem vícios em videojogos e outras tecnologias. Mas também mais prováveis de exibir sintomas com pequenas quantidades de exposição. [22] Os adolescentes e jovens adultos do sexo masculino com PEA também têm um risco acrescido de desenvolver vícios relacionados com a pornografia devido a uma combinação de deficits sociais, de isolamento e tempo excessivo de computador. E podem desenvolver ilusões românticas ou obsessões alimentadas pela habituação da gratificação imediata e à falta de pratica no mundo real. Ao mesmo tempo, a libertação de dopamina devido à interação com o ecrã reforça estes “ciclos” obsessivos.

Razão 9

As crianças com autismo tendem a ter um sistema de atenção delicado, fraco funcionamento executivo e uma “reduzida banda larga” no processamento de informação [23]. O tempo frente ao ecrã também fraturam a atenção, esgotam as reservas mentais e prejudicam o funcionamento executivo. [24]

Razão 10

As crianças com autismo podem ser mais sensíveis a EMF (campos eletromagnéticos) emitidos através de comunicações sem fios (p.ex rede wi-fi e frequências de telemóveis). Assim como dos próprios dispositivos eletrónicos. [25] Ao nível celular, molecular e atómico, a patologia verificada no autismo espelha os efeitos demonstrados na investigação dos impactos biológicos dos EMF. A sensibilidade elevada aos EMF pode dever-se (e podem piorar) a anomalias imunológicas e a problemas com barreiras de integridade no intestino e/ou no cérebro.

Razão 11

Crianças com autismo têm um risco acrescido para perturbações psiquiátricas de todos os tipos, incluindo perturbações de humor e ansiedade, PHDA, tiques e psicose. [26] No que respeita a psicose, pessoas jovens com PEA que são diariamente dedicados ao tempo de ecrã podem experienciar alucinações, paranoia, dissociação e perda da noção da realidade. Contudo, muito frequentemente, estes sintomas assustadores resolvem-se ou diminuem consideravelmente assim que os dispositivos são removidos e não precisem medicamentos antipsicóticos.

Para além das razões acima mencionadas, o tempo de ecrã substitui as mesmas coisas que sabemos que são essenciais para o desenvolvimento cerebral… A criação de laços, movimentos, contacto visual, interações verbais cara a cara, afeto humano, exercício, tempo livre e a exposição com a natureza e o exterior. Uma reduzida exposição a estes fatores pode influenciar negativamente a integração do cérebro, o Q.I e a resiliência em todas as crianças.

Repercursões

Na minha própria experiencia de trabalhar com crianças e adultos com autismo, o tempo de ecrã pode precipitar a regressão (perda de capacidades linguísticas ou sociais ou adaptativas), agravar os comportamentos repetitivos, limitar ainda mais os interesses e desencadear comportamentos agressivos e autolesivos. Tenho observado a regressão ocorrer quando um dispositivo de comunicação é introduzido. Normalmente quando é dito aos pais para encorajar as crianças a “mexer” no dispositivo para “se habituar”. A proliferação do iPad e dos smartphones têm provocado mais problemas e contratempos no meu trabalho do que qualquer outro fator.

Assim como estas experiencias podem ser stressantes e devastadoras, uma eliminação metódica dos ecrãs também pode ser empolgante e inspiradora. Estar livre dos ecrãs pode melhorar o contacto visual e a linguagem. Bem como, aumentar a flexibilidade no pensamento e nos comportamentos. Assim como alargar os interesses, melhorar as regulações emocionais. E ainda a habilidade de cumprir as tarefas, produz um sono mais revitalizante e reduz a ansiedade e os esgotamentos.

Embora a ideia da remoção dos ecrãs possa parecer avassaladora, aconselho vivamente um “jejum eletrónico” de quatro semanas como uma experiência para que consigam saborear o que a intervenção é capaz de fazer.

As famílias encontram duas a três áreas problemáticas para proporcionar provas objetivas. E são encorajados a documentar comportamentos (como os ataques de raiva frente ao ecrã e como as crianças brincam). Até mesmo algumas semanas podem produzir melhorias que podem ser suficientemente significantes para a família decidir continuar com a remoção dos ecrãs. Caso em que os benefícios continuarão a crescer uns nos outros.

As crianças vão continuar a ter autismo?

Sim, mas é praticamente garantido que ele ou ela vai sentir, focar-se, dormir, comportar-se e funcionar melhor. E curiosamente, provas empíricas sugerem que esta simples intervenção pode ser suficientemente forte para prevenir, detetar e até, em alguns casos, reverter o autismo diagnosticado suficientemente cedo. Testes de estudos piloto mais formais a esta intervenção estão disponíveis. (Casos de estudos que ilustrem este fenómeno serão sujeitos a uma futura publicação).

Quando os pais compreendem realmente a ciência do que acontece no cérebro quando uma criança interage com dispositivos de ecrã – e percebe como estas coisas impactam especificamente o autismo – são muito mais capazes de restringir os ecrãs adequadamente e serem menos influenciados pela pressão social. Eles “veem” como o tempo de ecrã traduz certos sintomas na sua criança, priorizam a saúde mental ao invés da experiência tecnológica e valorizam que todos os minutos gastos em frente ao ecrã são negociáveis.

Para mais ajuda para implementar o jejum de ecrãs, consulte “Reset Your Child’s Brain: A Four-Week Plan to End Meltdowns, Raise Grades, and Boost Social Skills by Reversing the Efects of Screen-Time”.

Referências

[1] J Melke et al., “Abnormal Melatonin Synthesis in Autism Spectrum Disorders,” Mol Psychiatry 13, no. 1 (May 15, 2007): 90–98.1985) 94, no. 5 (May 2003): 1773–76.ts of Vdt Tasks with a Bright Display at Night on Melatonin, Core Temperature, Heart Rate, and Sleepiness,” Journal of Applied Physiology (Bethesda, Md.: 1985) 94, no. 5 (May 2003): 1773–76.
[3] Matthew S. Goodwin et al., “Cardiovascular Arousal in Individuals with Autism,” Focus on Autism and Other Developmental Disabilities 21, no. 2 (2006): 100–123; BA Corbett and D Simon, “Adolescence, Stress and Cortisol in Autism Spectrum Disorders.,” OA Autism 1, no. 1 (March 1, 2013): 1–6.
[4] Marjut Wallenius, “Salivary Cortisol in Relation to the Use of Information andC ommunication Technology (ICT) in School-Aged Children,” Psychology 1, no. 2 (2010): 88–95; Amy E. Mark and Ian Janssen, “Relationship between Screen Time and Metabolic Syndrome in Adolescents,” Journal of Public Health 30, no. 2 (June 1, 2008): 153–60; Gary S. Goldfield et al., “Video Game Playing Is Independently Associated with Blood Pressure and Lipids in Overweight and Obese Adolescents,” ed. Philippe Rouet, PLoS ONE 6, no. 11 (November 1, 2011): e26643.
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