Por Lisa Jo Rudy | Revisto por um médico certificado
As crianças com autismo, frequentemente, gostam de coisas muito específicas. Por isso, os terapeutas lúdicos têm, ao longo do tempo, estudado as paixões de crianças com autismo, para poderem ajudá-las a desenvolver competências, tais como: a colaboração, a comunicação e o pensamento simbólico. Atualmente, um grupo de investigadores acredita que a construção com blocos LEGO pode ser uma ferramenta benéfica para a terapia do autismo. E uma ótima maneira de ajudar as crianças com autismo a construírem um interesse que podem partilhar com as outras crianças sem a perturbação.
A Teoria Por Trás Da Terapia Lúdica
Maria Montessori disse que “brincar é o trabalho da infância”. Então, ela queria dizer que as crianças aprendem através do brincar. As crianças neurotípicas usam o brincar para expandir e compreender melhor o seu mundo, através do experimentar, do jogo simbólico (imaginativo), da atividade física e do desporto, da interação social e da observação.
Ao fingirem ser adultos, personalidades da televisão, ou super-heróis, as crianças praticam o uso da linguagem verbal e comportam-se de forma expectável. Ao jogar jogos estruturados, as crianças aprendem a seguir regras, colaborar com colegas de equipa, dar a vez e a trabalhar em direção a um objetivo comum.
As crianças com autismo brincam de forma diferente das outras crianças. Tendem a brincar sozinhas ou envolvem-se em jogos paralelos (duas crianças fazem a mesma coisa, mas cada um no seu próprio canto).
Apesar de as crianças com autismo conseguirem memorizar e recitar frases ou encenações de filmes ou de televisão, raramente expandem o que aprendem com as suas próprias interpretações das personagens ou das histórias.
E, apesar de conseguirem jogar jogos, muitas vezes têm muita dificuldade com a colaboração, dar a vez, ou a trabalhar em direção a um objetivo partilhado.
Além disso, a maioria das crianças com autismo tem padrões de jogo específicos ou rotinas que se repetem de várias de formas idênticas.
Por exemplo, cantam a música de um programa de televisão, sempre da mesma forma, com os mesmos movimento da mão, repetidamente. Ou, a partir de blocos, constroem e reconstroem o mesmo edifício, criam o mesmo traçado das linhas de comboios, ou andam com um carro de brincar para trás e para a frente, ao longo do mesmo caminho. Quando lhes é pedido para tentarem algo novo, podem ficar chateadas, porque o seu jogo repetitivo é calmante. Já a mudança pode provocar ansiedade.
Assim, as várias formas de terapia lúdica procuram ajudar as crianças com autismo a superarem os seus desafios, baseando-se nos seus interesses para expandir a comunicação, a imaginação e as habilidades sociais. Em vez de proibir as crianças de continuar com as suas atividades repetitivas, os terapeutas lúdicos usam uma variedade de técnicas para complexificar e desenvolver as suas atividades.
Por exemplo, se uma criança “conduz” um camião sobre a mesma parte do tapete, repetidamente, um terapeuta lúdico pode colocar um obstáculo no tapete. Assim, exige que a criança aceite a mudança e interaja com o terapeuta. Através do processo da terapia lúdica, muitos terapeutas têm visto melhorias significativas na linguagem, comunicação, colaboração e até mesmo nas capacidades físicas.
Porque é que a terapia de LEGO foi criada
Os brinquedos de construção LEGO são super populares entre as crianças com autismo. Oferecem uma atividade simples, previsível, repetível que pode ser realizada sozinha, sem ajuda externa. Também fazem parte de um sistema de brinquedos que se parecem e que se comportam de formas semelhantes. Os LEGO também oferecem bónus extra:
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Exigem fortes competências motoras e força significativa nas mãos;
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Exigem competências espaciais, visuais e analíticas;
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Têm um valor intrínseco no mundo (o jogo LEGO é universal, e os modelos e estruturas LEGO tornaram-se bem reconhecidos, não só como modelos de brinquedos, mas também como formas de arte);
Assim, o neuropsicólogo clínico Dr. Daniel LeGoff, ao perceber que muitas crianças com autismo eram atraídas por este jogo, começou a experimentar a terapia LEGO, em 2003.
A sua intenção era criar um programa de competências sociais eficaz, que pudesse ser usado em várias configurações e ser transferível para interações com outras crianças, no mundo real. Em 2004, publicou um artigo que mostrava resultados positivos do programa que criou.
Hoje existem vários praticantes, bem como livros e programas, todos focados na terapia LEGO. Apesar de existir uma variedade de abordagens comportamentais e de desenvolvimento para a terapia, a maioria usa técnicas semelhantes para envolver as crianças e procuram o desenvolvimento de competências, a fim de alcançar os seus objetivos relacionados com o jogo.
Como funciona a terapia com LEGO
O objetivo da terapia LEGO é desenvolver competências que ajudam as crianças com autismo a interagir melhor com os colegas, partilhar experiências e a colaborar. O que significa que para beneficiar da terapia LEGO, a criaça deverá ter alguma capacidade de verbalização e de seguir instruções, tanto visuais como verbais.
Na forma mais básica da terapia LEGO, as crianças trabalham em grupo, assumindo as seguintes funções:
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O engenheiro – tem um conjunto de instruções para o modelo e deve solicitar os blocos ao fornecedor e dirigir o construtor para montar o modelo;
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O fornecedor – tem os blocos LEGO e fornece ao engenheiro os itens necessários, mediante o pedido;
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O construtor – são-lhe dados os blocos pelo fornecedor e deve seguir as instruções dadas pelo engenheiro para fazer o modelo.
Se necessário, um adulto pode mediar e trabalhar com o grupo para incentivar o envolvimento no jogo, a resolução de problemas e a comunicação. Em alguns casos, vários terapeutas trabalham juntos, usando os LEGO para desenvolver competências motoras, a fala e melhorar a comunicação social. Os profissionais envolvidos com a terapia LEGO podem ser terapeutas ocupacionais, da fala, comportamentais, ou até mesmo psicólogos.
A terapia LEGO também pode ser expandida para incentivar o jogo criativo e a colaboração, através da narrativa, atividades dramáticas e inovação. Por exemplo, numa versão da terapia LEGO, as crianças trabalham em conjunto para criar versões de um mundo descrito num texto. Ou trabalham em conjunto para criar um veículo que tem qualidades específicas, ou pode navegar numa situação particular.
As crianças também podem trabalhar juntas para construir e programar robots LEGO Mindstorms, que são muito mais elaborados. Nestes cenários mais avançados, as crianças podem colaborar na complexa construção do mundo, narração de histórias ou no design.
A terapia LEGO é eficaz?
A terapia LEGO é construída em torno de terapias existentes, eficazes e sem qualquer risco. O que significa que não prejudica a criança e pode ajudar a desenvolver competências e amizades significativas, construídas em torno de interesses comuns.
Há poucos estudos focados na terapia LEGO. Além disso, a maioria deles foram conduzidos com pequenos grupos de indivíduos, com interesse em ver a terapia ter sucesso.
Nenhuma terapia tem sucesso com todas as crianças com autismo. Depende muito da dinâmica do grupo na terapia e do seu mediador. Como em qualquer contexto terapêutico, algumas crianças terão melhor resultados que outras.
Assim, a única coisa que arrisca com a terapia LEGO é tempo e dinheiro. Mas é provável que tenha resultados positivos, se o/a seu/sua filho/a:
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Gostar de construir modelos com LEGO;
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Estiver mais ou menos ao mesmo nível funcional que as outras crianças do grupo;
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Tiver a capacidade de seguir instruções verbais;
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Mostrar pelo menos algum sucesso num jogo interativo no passado;
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For capaz de mudar as suas ideias, sem perturbações emocionais significativos;
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Estiver motivado/a para desenvolver relações sociais com outras crianças.
Assim, antes de começar com a terapia LEGO, é bom ter uma conversa com o/a(s) terapeuta(s) para determinar quais são os seus objetivos, como é o envolvimento das crianças, e o que a abordagem inclui. Pede ao/à terapeuta para se encontrarem e avaliarem o teu/tua filho/a, para determinar se está pronto/a para esta forma avançada de terapia lúdica. Se tiveres dúvidas, podes pedir experimentar por um período de tempo e ver a adesão do/a teu/tua filho/a à terapia.
E se o/a meu/minha filho/a não gostar de LEGO?
Não existe nada de mágico nos LEGO. De facto, a mesma abordagem terapêutica pode ser utilizada com qualquer outro projeto que envolva trabalhar em conjunto para um objetivo comum.
Ao longo dos anos, terapeutas têm trabalhado com crianças com autismo usando uma ampla série de atividades, brinquedos e personagens que tendem a ser interessantes para elas. Apesar de as pessoas com autismo não partilharem necessariamente os mesmos interesses, algumas motivações comuns incluem:
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O desenho animado “Thomas e os Seus Amigos”;
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Jogos de fantasia, como o Dungeons And Dragons;
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Jogos colaborativos online, como o Minecraft.
Embora seja possível construir um grupo de terapia com foco nestes ou noutros interesses partilhados é, no entanto, importante que o grupo seja devidamente estruturado e apoiado. Além disso, também é importante realizar avaliações preliminares, estabelecer marcos de referência e monitorizar continuamente o grupo para ter a certeza de que o progresso está a ser realizado.
Recursos da terapia LEGO
A terapia LEGO não está disponível em todos os lugares. Mas terapeutas competentes, que trabalham com grupos de crianças com autismo, são capazes de incorporar o jogo LEGO nos seus programas. Os pais também podem aprender a usar os LEGO, como uma ferramenta terapêutica nas suas próprias casas, ao trabalhar com irmãos ou outros adultos e crianças.
Para saber mais sobre a terapia LEGO, pode falar com o/a seu/sua terapeuta ou o/a psicólogo/a da escola; falar com membros do teu grupo de apoio ao autismo, ou ler um destes livros:
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How LEGO®-Based Therapy for Autism Works: Landing on My Planet How LEGO®-Based Therapy for Autism Works: Landing on My Planet de Daniel B. LeGoff (fundador da terapia LEGO);
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LEGO®-Based Therapy: How to build social competence through LEGO®-based Clubs for children with autism and related conditions de Simon Baron-Cohen.
Fonte: https://goo.gl/g4UQ1f
Traduzido por: André Costa