Devo forçar a minha criança com autismo a participar de atividades “típicas”?
Inscreve a sua criança com autismo num programa de futebol pré-escolar e ver o seu filho divagar enquanto as outras crianças chutam a bola alegremente e correm em direção à baliza.
Mascarar totalmente o seu filho para o Dia das Bruxas da sua personagem favorita da TV, apenas para descobrir que ele não pode vestir o fato durante mais do que dois minutos sem ter um colapso sensorial.
Convidar um colega de turma amigável para ir brincar. O seu filho deixa abruptamente a sala de brincar e sobe sozinho – duas horas antes do fim da brincadeira.
Todas estas são experiências comuns para pais de crianças com autismo
Na verdade, muitos dos pais destas crianças enfrentam desafios muito mais dramáticos quando passam por experiências sociais típicas: o filho sai a correr da sala, bate na outra criança ou, quando solicitado a participar, tem um colapso emocional.
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O barulho e o caos de uma atividade de equipa como o futebol podem ser um pesadelo sensorial para o seu filho.
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“Brincar juntos” com outra criança pode exigir níveis de envolvimento social, comunicação e intuição que estão para além da capacidade atual do seu filho.
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Atividades com regras complexas e indefinidas podem ser esmagadoras, confusas e frustrantes para o seu filho.
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“Fazer de conta” e fingir são atividades que podem exigir muito mais preparação e prática do que a maioria dos pais quer ou pode oferecer.
A realidade é que muitas atividades sociais típicas podem parecer divertidas e fáceis para a mãe e o pai, mas, para as crianças, podem ser irrelevantes, desagradáveis e até mesmo perturbadoras
Os pais, claro, podem sentir a necessidade de se encaixarem junto da sua família e colegas e, portanto, acreditar que expor os filhos a estas atividades eventualmente irá levar à aceitação. Podem sentir-se pressionados a obrigar os seus filhos com autismo a comportarem-se “normalmente”.
É uma boa ideia, no entanto, empurrar e forçar as crianças para atividades que elas não gostam? Na maior parte das situações (com algumas exceções incomuns, que incluem situações de emergência e eventos especiais e inevitáveis), a nossa sugestão é, caso a sua criança não queira, tente evitar a “obrigação”.
Atividades típicas envolvem crianças, pais e instrutores / treinadores. Estas pessoas normalmente sabem pouco sobre o autismo e podem ficar impacientes, frustradas e até desagradáveis quando uma criança não pode ou não consegue cooperar ou participar. Tente falar com os instutores e sensibilizados para os desafios do seu filho.
As atividades típicas não possuem um nível de intuição e participação social
Por exemplo, os treinadores de futebol assumem que todas as crianças com 3 ou 4 anos de idade já sabem que vão jogar em equipa, que o seu objetivo é chutar a bola para a baliza, que “marcar um golo” é uma coisa boa e que todos deveriam aplaudir quando uma bola entra na baliza. Crianças com autismo, por um conjunto de razões, podem não ter essa informação – e, assim, toda a experiência parece e é sentida como um . Enquanto que crianças com autismo são normalmente capazes de correr e chutar, precisam de um grupo pequeno ou instrução e prática 1:1 para perceber os conceitos e desenvolver competências que os colegas já têm.
É improvável que experiências negativas com atividades típicas levem a experiências positivas com atividades típicas. Sim, “tente e tente novamente” é um bom mantra em geral… Mas na verdade, se eles estão insatisfeitos… A melhor opção que têm é mostrar a sua infelicidade de forma tão alta quanto possível, de modo a sair da situação o mais rápido possível.
A maioria das crianças com autismo têm preferências e áreas de interesse pessoais das quais desfrutam. Se o seu filho adora legos, comboios, princesas da Disney, ou chapinhar na piscina… Estes são verdadeiros interesses que podem ser a base para a construção de relações, competências, ou da simples diversão. E quando a sua criança estiver mais aberta à interação social, então porque não voltar a tentar as atividades “típicas”.
Traduzido por: Sofia Coelho