Já falámos em outros artigos do que é o tempo de atenção conjunta e de como aumentar e trabalhar esse mesmo tempo. Agora é hora de falar de como podemos desenvolver competências sociais usando o TAC (tempo de atenção conjunta).
Este artigo dirige-se às pessoas que já conseguem interagir em atividades cíclicas (ação motivadora – pausa – mesma ação motivadora – pausa), que inclui o outro na brincadeira quando um adulto apenas oferece a brincadeira e sorri ou dá gargalhadas brevemente e ocasionalmente em resposta às ações motivadoras oferecidas pelo outro na interação. Caso a pessoa que acompanhas ainda não tenha interação em atividades cíclicas, recomendamos então que leias primeiro este artigo.
Voltando ao tema deste artigo, vamos então começar! Antes de mais, tem em atenção os seguintes pontos:
Faz uma lista de motivações
Algum brinquedo que lhe chamou à atenção, algo que ela viu, que ficou na sua mão…
Faz uma lista de ações motivadoras
Ação motivadora é toda aquela ação que se oferece à pessoa que ela demonstra querer que se repita. Por exemplo: cócegas, andar de cavalitas, apanhada, etc.
Faz uma lista dos principais objetivos de competências
Define objetivos que gostarias de desenvolver na pessoa que acompanhas consoante o seu nível de desenvolvimento. Define objetivos que percebes que ela já está preparada para adquirir.
Minimiza a exposição a estímulos não relevantes para a atividade corrente
Por exemplo, tirar apoios visuais de brincadeiras anteriores, deixar brinquedos que não serão usados na atividade dentro de caixas ou nas prateleiras, desligar a televisão e computador.
Inicia atividades interativas com entusiasmo e convicção
Inicia, sempre que tiveres uma “janela de oportunidade”. Quando criamos brincadeiras que nós mesmos nos divertimos enquanto as preparamos e as executamos, demonstramos o quão divertido aquela atividade pode ser. Ao ver o nosso entusiasmo, a probabilidade da pessoa querer brincar ao que estamos a propor aumenta consideravelmente.
Oferece uma “amostra grátis” no início
Inicia a brincadeira ao oferecer a ação motivadora para mostrar à pessoa que acompanhas como a atividade nova pode ser divertida. Dessa forma, conseguimos observar se ela irá querer ou não entrar na brincadeira.
Pequena dica: para deixar a ação motivadora mais interessante e aliciante e aumentar desta forma o tempo de atenção conjunta, podemos colocar as motivações dela na brincadeira.
Escolhe algumas motivações e tenta incluí-las na ação motivadora. Por exemplo: estás a oferecer cócegas e sabes que ela adora o Mickey… Usa uma fotografia dele e coloca na tua testa ou começa a fazer a voz do Mickey, para a brincadeira ficar ainda mais interessante para ela. Se a pessoa gosta de certas músicas ou sons, poderás incluir esses sons para deixar ainda mais engraçado. Ou então nas brincadeiras das cócegas, poderás fazer cócegas com algum dos objetos ou personagens que ela tem interesse recorrendo a fantoches ou peluches.
Hora de colocar os objetivos na brincadeira que iremos oferecer! Como fazer?
A pessoa poderá estar a divertir-se e nós também, mas a verdade é que também estamos super focados em trabalhar os seus maiores desafios para a ajudar. Então há que definir o que pretendemos trabalhar com a brincadeia em específico que criámos.
Depois de criada a brincadeira e de a pessoa já estar muito motivada com o que estamos a oferecer e se percebemos que ela quer mais daquela ação que estamos a oferecer, vamos então começar a solicitar o que gostaríamos que ela fizesse. Mas antes de solicitar, vamos modelar a ação que pretendemos.
Exemplo: se o nosso objetivo é que comunique verbalmente o que quer e criámos a brincadeira das cócegas, então nesta brincadeira o nosso objetivo é que fale espontaneamente “cócegas” ou “có” (dependendo do grau de desenvolvimento da comunicação) para sabermos o que quer e continuar assim a brincadeira. Vamos então começar por ajudá-la a falar “có” de cócegas durante a brincadeira. Podemos verbalizar várias vezes a palavra “cócegas” ou “có” ao longo da brincadeira para a pessoa ir ouvindo e assimilando.
Nas primeiras pausas que fizermos, iremos dizer “có” e voltar a fazer cócegas na criança. Podemos repetir o mesmo processo até à terceira pausa.
Lembra-te:
ação motivadora – pausa – mesma ação motivadora – pausa
Ao repetir este processo, a pessoa irá começar a perceber que o que o faz voltar a fazer cócegas, será a palavra “cócegas” ou a sílaba “có” nas pausas. Antes e durante a brincadeira, vamos modelar a palavra, e na pausa solicitar, por exemplo “Podes falar có, para cócegas, e eu volto a fazer-te cócegas”. Qualquer som que a pessoa fizer vamos comemorar muito, por exemplo “Uauuu, isso foi espetacular, falaste “aa” para cóo (enfatiza) de cócegas, por isso irei fazer-te supercócegas!”.
Mas se a pessoa não responde à nossa solicitação?
Primeiro oferecemos um tempo razoável para que possa nos responder. Este tempo deve ser medido tendo em conta a motivação dela. Se percebemos que ela irá sair da brincadeira, voltamos a oferecer a ação motivadora mesmo sem ela nos ter dado resposta. O importante é ajudá-la a permanecer na brincadeira, para termos mais oportunidades de a ensinar.
Este é um exemplo típico de brincadeiras cíclica. Nela podemos escolher e incluir qualquer objetivo que gostaríamos que a pessoa desenvolvesse. Por exemplo, se queremos que ela nos olhe, durante a pausa, podemos procurar os seus olhos e quando ela nos olhar, voltamos a oferecer cócegas. Se queremos que ela bata palma, podemos na pausa, bater palma e então voltamos as cócegas, nos outros ciclos anteriores, ajudamo-la a bater palma e voltamos a fazer cócegas.
É importante ter em conta o nível de desenvolvimento da pessoa que acompanhas para teres a certeza que os objetivos definidos não são demasiado grandes naqueles momentos e de que não estamos a “saltar” nenhum degrau.
Em primeiro lugar, o ideal seria identificar quais os objetivos que queres obter e depois ir graduando os objetivos em outros objetivos mais pequenos até chegar ao degrau em que a pessoa se encontra. Se a pessoa não estiver a conseguir atingir o objetivo, mesmo depois de várias e várias tentativas, talvez o degrau pedido ou esperado esteja muito acima do degrau em que a pessoa se encontra efetivamente e o processo de desenvolvimento de cada pessoa, pede mesmo um acúmulo de várias competências (passo a passo até chegar à meta final). Saltar estes degraus de aprendizagem, faz com que seja mais complicado para a pessoa adquirir as competências que gostaríamos que desenvolvesse.
Lembra-te sempre, mílimetro, a mílimetro… e a acreditar que TUDO é possível.