Antes de começares a ler este artigo, recomendamos que leias o anterior, onde explicamos como criar brincadeiras cíclicas e em que consiste.
Se a pessoa que acompanhas já consegue fazer brincadeiras ou atividades cíclicas, aqui explicamos como estruturar essas mesmas brincadeiras/atividades para não fugir do foco:
Define qual será a ação motivadora
A ação motivadora será oferecido pelo cuidador, aquilo que a pessoa quer que faças, ou que não consegue fazer sozinha ou prefere ver-te a fazer. Basicamente, será o papel do cuidador.
Define o papel da pessoa que acompanhas
Aquilo que gostarias que ela fizesse, será um dos objetivos escolhidos. Será o motor para que ela receba novamente a ação motivadora ou deixar a ação motivadora cada vez mais divertida.
Nota: convém escolher sempre um objetivo de cada vez a ser trabalhado em cada brincadeira e objetivos que sejam mais pequenos e específicos ao máximo. Exemplo: Verbalizar o som “có” para receber cócegas. Quando já atingir esse objetivo de forma consistente deverás alterar e aumentar o grau de dificuldade – verbalizar as sílabas “có-ce” para receber cócegas.
Oferecer ações motivadoras antes e logo após os desafios para que a pessoa continue motivada a participar da atividade
Alternar ações motivadoras (algo que fazes para ela e que é divertido para ela) e desafios (papéis que pedes que a pessoa faça na atividade).
Dá mais ações motivadoras antes de fazer a pausa e solicitar
Para que a pessoa se divirta e esteja motivada para continuar envolvida na brincadeira/atividade que estás a oferecer, oferece algumas vezes a ação motivadora antes de fazer uma pausa e solicitar algo.
Modela o papel que pretendes solicitar, fazendo antes o que queres que ela venha a fazer depois
Em seguida, demonstrar o que acontece quando fazes o papel da pessoa com autismo: ela leva à ação motivadora.
Repete (com pequenas variações) a ação motivadora em ciclos torna a tua ação previsível e mais compreensível
O controle, a previsibilidade e a compreensão da atividade ajudam a pessoa a manter-se interativa e participativa.
Oferece solicitações diferentes
As solicitações podem ser de duas formas:
a) Diretas (“Carolina, podes falar “có” para que eu te faça cócegas novamente” ou “Carolina, diz ‘có’”)
b) Indiretas (“Acho que é precisa dizer alguma coisa para eu fazer cócegas novamente”) ou com pausa (esperar com entusiasmo pelo papel da pessoa de falar a palavra “có”).
A pessoa também pode ser convidada a ajudar-te a fazer o papel que futuramente será pedido a ela. Por exemplo, se o papel dela será o de apertar um botão, o cuidador poderá apertar o botão dando o modelo inicialmente e pedir ao mesmo tempo a ajuda da pessoa para apertar: “Carolina, não estou a conseguir apertar, podes-me ajudar a apertar?”. A pessoa com autismo teria o papel inicialmente só de segurar na mão do cuidador enquanto o observaria a apertar botão.
Ajusta o grau do desafio das solicitações de acordo com o estágio de desenvolvimento, com a resposta e com a motivação da pessoa no dia
Por exemplo, se estiveres a solicitar uma palavra mas percebes que esta é uma solicitação com um grau alto de desafio, pensa em solicitações que sejam mais fáceis para ela, como por exemplo, partir a palavra, pedindo a primeira sílaba. Ou então se perceberes que a palavra solicitada está muito fácil para ela, poderás ajudá-la a falar uma outra palavra com letras que ela ainda não fala ou falar duas sílabas ou frases de duas palavras “quero cócegas”.
Pausa a ação motivadora para que a pessoa tenha um motivo para comunicar algo ou responder à solicitação
Afasta-te um pouco da pessoa pois isso deixará mais evidente que este é o momento da pausa e que com ele virá a solicitação do papel dela.
Proporciona tempo prolongado para que a pessoa responda à tua solicitação
Caso ofereças um tempo de pausa prolongado após a solicitação e ela não responda, volta a oferecer a ação motivadora para ver se ela gostaria de continuar a atividade. Observa o estado de disponibilidade e se será necessário ajustar o grau do desafio.
Comemora o esforço e as tentativas de formas variadas
Usa comemorações com face, voz e corpo ajustadas à forma como ela demonstra aceitar melhor naquele dia. As comemorações aumentam as probabilidade de a pessoa repetir o seu papel no próximo ciclo.
Comemora descritivamente as iniciativas ou respostas da pessoa e explica o que ela fez que te levou a oferecer novamente a ação motivadora. Exemplo: “Carolina, que lindo! Disse-te “có”, agora o monstro das cócegas vai voltar ainda mais divertido para fazer a brincadeira das cócegas”; Ou então explicações mais curtas e simples “Disses-te “có” e eu encho-te de cócegas!”.
Sê persistente
Persistência X Insistência: Quando persistimos oferecemos a mesma atividade de formas variadas, ou explicamos algo oferecendo estímulos diversos e procurando a forma que mais será aceita ou melhor compreendida pela pessoa que acompanhamos. Quando insistimos, damos a explicação sempre da mesma maneira, com a mesma frase, ou então oferecemos a brincadeira sem modificar nada nela. Sê persistentemente divertido(a)!
Ao observar a atividade da pessoa, pensa qual o papel que poderás ter quando ela demonstrar interesse em ti
Ao invés de solicitar algo ou fazer perguntas, tenta ser útil para ela. Nem sempre a pessoa estará aberta para aceitar novas atividades propostas. Podes valorizar a atividade que ela já estiver a fazer e pensar em como pode ter um papel divertido nessa brincadeira. Por exemplo, se a pessoa estiver a andar e olhar para ti, poderás correr atrás dela iniciando uma brincadeira de apanhadas.
Diverte-te com ela, mostra-lhe quão agradável e divertida pode ser a interação humana!