Testemunho de James Hunt em “Stories About Autism”
Festas de aniversário e autismo podem ser coisas difíceis de misturar. Uma festa é uma grande mudança relativamente a um dia normal, e pode levar a uma sobrecarga de sensações. De repente existem imensas pessoas a mais, os níveis de barulho aumentam, os presentes, o bolo, as velas, os jogos, a música, a socialização, tudo isto pode ser demais.
Depois existe o fator de saber se o seu filho vai ser sequer convidado para uma festa? Irão os outros meninos querê-lo por lá? Se fizer uma festa para o seu filho, alguém irá aparecer?
O Jude nunca teve uma festa em 4 anos e também nunca foi a uma. E isso não tem problema, porque estar no meio de grupos de crianças nunca foi algo que ele gostasse. Uma festa de aniversário para ele, no entanto, sempre resultou num colapso emocional. Quando tinha 1 e 2 anos ele passava muito mais tempo em excesso de stress lá fora, do que na festa em si. O Tommy já foi a algumas, com resultados diferentes, e teve uma no seu quarto aniversário que correu bem. Às vezes ele diverte-se, outas vezes não, mas o facto de ser uma festa é algo que ele ainda não compreende.
Desta forma, quando o Tommy recebeu um convite para uma festa de um dos seus novos colegas de turma, nós decidimos aceitar a aventura.
Para mim eventos assim fazem-me sentir que estou numa luta interior a tentar encontrar o equilíbrio ideal. Estarei a forçar o Tommy a experimentar novas coisas que ele talvez goste, ou estarei a forçá-lo a fazer algo que pode correr muito mal?
Na semana passada foi o grande dia, e antes de irmos eu não parava de pensar no facto de o quão diferente uma festa será quando se é não-verbal.
O Tommy não tinha ideia para onde ia para não haver demasiado entusiasmo prévio. Eu não tinha ideia se ele sequer queria ir à festa. Não tenho sequer certeza se ele gostava do rapaz aniversariante. Não houve qualquer discussão sobre quem eram os amigos dele, sobre as expectativas ou sobre o que é que ele queria brincar.
O local era um espaço de diversões normal, uma vez mais, algo que o Tommy tanto pode adorar ou detestar.
Quando lá chegamos o Tommy pareceu bastante invisível perante os seus colegas. Não houve reconhecimentos de entusiasmo, nem abraços ou ‘mais cinco’ com as mãos, não houve correria para irem logo brincar. Esteve algum tempo a brincar sozinho, mas, entretanto, descobriu uma daquelas antigas máquinas de venda automática e isso tornou-se o foco da sua atenção. Eu tentava levá-lo para a área de brincar, mas 30 segundos depois ele voltava para a máquina e pedia mais doces.
Quando chegou a altura de comer ele não comeu nada. Em vez disso, ele tentou várias vezes tirar um bocado da cobertura do bolo, mesmo quando chegou a parte de cantar os parabéns!
Foi agradável conhecer os outros pais (da melhor forma possível tendo em conta que estava constantemente distraído com o que o Tommy estivesse a fazer) e relacionar os nomes às caras dos seus colegas de turma.
No entanto, a pergunta mais importante é: o Tommy divertiu-se?
Eu pensei muito nisso no caminho de volta para casa e ainda não tenho a certeza.
Ele sorriu várias vezes enquanto lá estávamos, mas voltava aos seus estímulos emocionais (stim) a maioria das vezes. Depois, no caminho para casa, ele teve um pequeno colapso emocional no carro, algo que é raro nele. Ele começou a chorar, a bater na janela e a cuspir para cima de mim. Eu não tive reação pois estava no banco da frente a tentar concentrar-me na condução e ao mesmo tempo a certificar-me de que ele não se magoava.
A experiência deve ter sido demais para ele devido à reação que teve. Mas, com uma comunicação tão limitada, é sempre difícil saber ao certo as razões exatas.
Eu estou extremamente grato pelo facto de ele ter sido convidado para uma festa de aniversário, tendo em conta que existem muitas coisas das quais somos excluídos. Estou também contente de termos ido, de termos experimentado. Simplesmente não pareceu ser assim tão divertido para o Tommy como eu pensei que fosse ser.
Traduzido por: Joana Guerra