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Ajudar a pessoa com autismo a dormir

3 de Fevereiro de 2020 – vencerautismo

Para ajudar a pessoa com autismo a ter uma boa noite de sono, deves ter em atenção, em primeiro lugar, estas que poderás estar a utilizar e que podem, por sua vez, ser um obstáculo ao objetivo pretendido:

  1. Oferecer comida antes de ir dormir;
  2. Oferecer alimentos com açúcar, laticínios ou corantes (em qualquer altura do dia).
  3. Faz atividades muito energéticas ou excitantes, antes de dormir;
  4. Permitir que veja TV ou esteja ao computador (ou outro dispositivo semelhante) antes de ir dormir.
  5. Ter atividades em casa, que possam fazer barulho, logo após a pessoa com autismo ir dormir (por exemplo, jantares com amigos);
  6. Ficar sempre no quarto com a pessoa até esta adormecer;
  7. Deixar que durma na cama consigo;
  8. Tirar a pessoa do quarto e dar-lhe comida/ bebida quando se levanta a meio da noite;
  9. Estar num estado emocional de stress antes de a pessoa com autismo ir dormir;
  10. Ficar frustrado/a e/ou irritadiço/a quando a pessoa está a ter dificuldade em adormecer;

Estas são as principais armadilhas que deverás evitar no processo de adormecer a pessoa com autismo. E, agora, por onde seguir?

As questões de sono são uma preocupação muito frequente por parte dos cuidadores de pessoas com autismo. Se a pessoa com autismo não dorme durante a noite, não se deita tão cedo quanto desejavas, ainda dorme na tua cama, ou qualquer outra versão do mesmo e está ansioso/a pela mudança – por favor continua a ler!

Consistência

O primeiro passo para ajudar a pessoa com autismo nas sua dificuldade em dormir é analisares a consistência rotinas noturnas. Portanto, queres olhar para a situação com óculos de detective postos e descobrir como é a vossa rotina e, eventualmente, o que é que a pessoa pode estar a ganhar com esta experiência. Por exemplo, o que é que a pessoa ganha com a forma como reages a ela e às suas dificuldades em dormir. Por isso, reflete sobre as seguintes perguntas:

  • O que é que eu faço quando a pessoa com autismo acorda durante a noite?
  • Como é que eu reajo quando a pessoa chama por mim?
  • Como é que me sinto? Mantenho-me calmo/a e descontraído/a? Fico nervoso/a ou stressado/a?
  • Consigo estabelecer limites e manter-me firme neles?”
  • Acalmo a pessoa em vez de lhe permitir que encontre uma forma de se acalmar a si própria?
  • Estou tão cansada e frustrada que me sinto vencida e cedo ao que a pessoa quer, mesmo que não considere que seja o melhor? (por exemplo, deixar a pessoa ir dormir contigo)

O objetivo não é culpar-te, atenção! Tudo o que tens feito, foi com a melhor das intenções e foi o melhor que conseguiste fazer com as situações que te aconteciam. É fácil ceder em determinadas situações, até porque estamos cansados/as e conseguir algumas horas de sono é melhor do que nada, certo?

Se acontece de, por exemplo, a pessoa chorar ou se rejeita completamente a adormecer ou continuar a dormir e nós cedemos em aspetos que tínhamos definido como limites, ela entende que dessa forma consegue o que quer, consegue ultrapassar o nosso limite.

Sugerimos, então, que escolhas uma semana em que sabes que não haverá nada de especial, fora do vulgar ou importante. Por exemplo, não escolhas uma altura em que tens visitas de familiares ou uma grande reunião de trabalho. Escolhe, por exemplo, uma semana de férias, em que não é o fim do mundo se tiveres o teu sono interrompido durante um par de noites.

Depois deste passo o que se segue então?

1º passo

Define uma hora razoável para a pessoa ir dormir – podes definir e negociar em conjunto com a pessoa com autismo, tendo em conta a sua idade e nível de desenvolvimento. Por exemplo, podes definir hora de ir dormir às 22h00 e de acordar às 07h00. Por favor, ajusta ao que faz mais sentido na vossa dinâmica e horários. Mantém-te firme na ideia de que é isto que queres! Acredita que isto vai ajudar, vai ser útil e benéfico para todos. Quanto mais todos descansarem, mais tranquilos se sentirão, o que vos permitirá manter uma atitude positiva e descontraída para os dias que se seguem.

Uma hora antes da hora de dormir – da hora definida em conjunto -, começa a explicar e relembrar à pessoa que às 22h00 é hora de ir dormir e que estás empolgado/a por irem ter uma boa noite de sono. Explica como se vão sentir bem de manhã, que o sono ajudará o corpo a sentir-se descansado e que dormir ajuda -vos a ter mais energia para as atividades do dia seguinte! Basicamente, promove a ideia do sono de todas as formas possíveis que possas.

2º Passo

Uma a duas horas antes da hora definida para ir dormir, por exemplo, começa a baixar a energia e desliga todas as televisões, computadores, etc. Evita que a pessoa beba muitos líquidos também. As idas à casa de banho durante a noite, podem ser uma das razões para a pessoa não dormir tão bem ou para acordar e não conseguir voltar a adormecer.

3º Passo

Cria uma rotina de deitar. Por exemplo, tomar banho (para relaxar), escovar os dentes, ler um bocadinho (a pessoa pode ler sozinha ou podem ler em conjunto – o que fizer mais sentido na vossa situação), no quarto da pessoa e quando chegar às 22h00, fecha-se o livro, desejas uma boa noite, apagas as luzes e sais do quarto. Nota: convém, como referimos anteriormente, dares alguns avisos de que a hora de dormir está a chegar.

O que pode acontecer a seguir?

Se a pessoa se negar a dormir, fizer birra, chorar, etc…

Podes voltar a entrar no quarto e explicar-lhe que é hora de dormir, como tinham combinado e que vão todos dormir e voltam a estar juntos na manhã seguinte. Dependendo da situação e da idade, podes dar um beijinho ou um abraço, aconchegar a pessoa na cama e sair. Por vezes, principalmente com crianças, só precisam da confirmação de que, mesmo estando noutro quarto, se precisarem de ti, podem chamar que estarás presente. Por isso, se tal acontecer, mostra que estás atento/a e estarás lá para ela.

Se a pessoa chama por ti, porque tem medo ou quer a tua presença…

Entra novamente no quarto e podes dizer “Estou ali no meu quarto, não te preocupes, vamos todos dormir”, voltas a ajudar a pessoa a deitar-se, aconchegas e sais.

Se a pessoa acordar a meio da noite…

Podes ir ter com ela uma vez (só para garantir que está em segurança), dizer algo como mencionamos anteriormente e depois sais. Podes explicar que independentemente da birra ou dos berros, agora é hora de ir dormir, não há mais nada para fazer e que, por isso, vais para o quarto dormir. Pode parecer e soar doloroso, e é difícil para os cuidadores, mas a pessoa está só a tentar comunicar e quebrar um limite (porque está habituada a que isso resulta). Portanto quanto mais reagirmos a isso, mais continuará a fazê-lo. No entanto, se pessoa só precisar de conversar um bocadinho para acalmar, por exemplo, e depois voltar a dormir, está tudo bem – tenta diminuir o tempo de conversa gradualmente e oferecer-lhe outras formas de se autorregular.

Se a pessoa for ter contigo ao teu quarto…

Fazes tudo como referimos anteriormente, assim que tenhas a tenhas acompanhado de volta ao seu quarto/cama – faz isto tantas vezes quantas forem necessárias.

Acredita que podes ser mais persistente que ela e eventualmente, ela ficará exausta e adormecerá num sono profundo e pacífico. A chave é a consistência! Se entras e pegas na criança ao colo ou permites que a pessoa com autismo vá para a tua cama ou veja televisão novamente até adormecer, etc., nem que seja uma vez só, podes ter que voltar ao início do processo outra vez.

A atitude que temos quando fazemos isto é fundamental. Às vezes, só a crença e convicção de que esta é a melhor coisa para ti e para a pessoa com autismo é suficiente para que isto funcione logo na primeira noite. É importante não ceder, pois a pessoa com autismo vai aperceber-se de qualquer agitação que sintas e se estás convicto/a ou não. Outras vezes pode levar duas ou três noites até a pessoa entender e começar a ceder.

E na manhã seguinte?

Aqui também é necessário manteres a consistência. Lembra-te que tinhas definido uma hora de dormir e outra para acordar e é necessário que as respeites. Por essa razão, acorda a pessoa com autismo à hora definida, mesmo que isso significa que tu dormiste pouco e que a pessoa tenha dormido pouco. Em relação a sestas, permite apenas que aconteçam as sestas que já acontecem naturalmente. Aos poucos, respeitando os horários, a pessoa estará cansada quando chegar a hora de ir dormir à noite.

Utiliza o senso comum e adapta tudo o que dissemos à tua situação – não tem de ser uma solução igual para todos, vê o que faz mais sentido para ti. Algumas pessoas sentem que é eficaz ficar no mesmo quarto com a pessoa com autismo até que ela adormeça e depois, ao longo do tempo, vão ultrapassando esta prática. Confia em ti próprio/a e no que te parece bem dentro do contexto do teu estilo específico de educação e das necessidades da pessoa com autismo.

Por último…

Considera também a alimentação da pessoa com autismo, pois por vezes pode afetar a capacidade da pessoa adormecer ou manter-se a dormir. Uma dieta sem glúten, caseína, sem açúcar ou estimulantes pode ajudar a melhorar o sono.

Desejamos umas boas noites de sono pleno! Bons sonhos!

Podes aprender mais sobre este tema através das nossas Masterclasses:

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