Existem ligações importantes entre o autismo e a nutrição. O autismo não é consequência de desnutrição ou desafios relacionados com a alimentação. No entanto, isso não quer dizer que não existe uma ligação entre ambos. Na realidade, várias pesquisas sugerem que desafios relacionados com a alimentação têm um impacto significativo em muitas pessoas.
De acordo com um estudo, “crianças com PEA, recusam mais alimentos do que crianças com o desenvolvimento típico (41,7% contra 18.9% dos alimentos oferecidos)”. Outro estudo defende que “crianças com autismo têm significativamente mais problemas de alimentação e comem um conjunto significativamente mais restrito de alimentos do que crianças sem autismo.”
Se esta é a tua realidade, não estás sozinho/a.
Alguns hábitos alimentares podem levar a um conjunto amplo de questões nutricionais que, por sua vez, podem levar a vários problemas, abrangendo desde problemas de saúde, défices de atenção e problemas comportamentais. Resolver os problemas de alimentação seletiva, intolerâncias alimentares e défices nutricionais pode fazer uma diferença positiva na vida da pessoa com autismo.
Quando se pode considerar que a pessoa tem desafios com a alimentação?
Enquanto crianças, com ou sem autismo, é natural que passem por uma fase mais seletiva na alimentação, por exemplo. Mas a verdade é que a alimentação também é uma questão de educação e é uma área que pode ser trabalhada e desenvolvida.
Não é necessários ficares preocupado/a, principalmente se a pessoa come alimentos de cada um dos principais grupos alimentares e se está a desenvolver-se bem e sem questões de saúde ou nutricionais a apontar. Contudo, caso notes algumas dos seguintes pontos, de forma frequente, podes pensar em procurar a opinião de um nutricionista:
1. Aceitar menos de 20 alimentos;
2. Recusar todos os alimentos de um ou mais grupos de alimentos;
3. Obstipação ou diarreias com muita frequência;
4. Perda peso (ou estar abaixo da linha de crescimento) e/ou aumento de peso excessivos;
6. Alterações comportamentais: apresentar cansaço (sem razão aparente), comer coisas supostamente não comestíveis – pica – , o que pode indicar deficiência de vitaminas ou minerais (por exemplo, anemia por défice de ferro), etc.
7. Tossir e engasgar-se frequentemente durante a refeição e/ou infeções pulmonares recorrentes
Quais as potenciais causas relacionadas com estes desafios?
Desafios sensoriais.
Pessoas com autismo podem ter defesas sensoriais mais ativas, o que significa que ficam mais facilmente perturbadas (e por isso evitam) certas experiências sensoriais. Podem detestar luzes claras ou barulhos altos. Também podem evitar certos cheiros fortes e certas experiências táteis. Determinadas comidas têm cheiros e sabores fortes; outras têm texturas específicas, que podem ser difíceis de tolerar para algumas pessoas
Problemas gastrointestinais
De acordo com uma revisão, com base em múltiplos estudos, “existe uma forte relação e correlação significativa entre problemas de alimentação e de disfunção gastrointestinal em crianças com autismo”. Alguns comportamentos da pessoa poderão estar relacionados com dor e desconforto provocados por gases, inchaço, diarreia ou refluxo. Se a pessoa com autismo e consegue descrever as suas sensações físicas, será mais fácil determinar se está a experienciar algum problema gastrointestinal, podes perguntar-lhe diretamente. Outros sinais a que podes estar atento/a são: diarreia, prisão de ventre, flatulência ou ter a barriga dura. Também poderá notar que a pessoa pressiona o estômago contra as almofadas ou cadeiras, por exemplo, para aliviar a pressão.
Padrões comportamentais
Como muitos de nós (e principalmente as crianças), é natural que a pessoa com autismo prefira, muitas vezes, batatas fritas e pizza a saladas e fruta. Embora seja possível que essas preferências extremas sejam sensoriais, também é possível que a pessoa tenha desenvolvido uma rotina que é extremamente difícil de mudar. Pessoas com autismo, no geral, preferem similaridade e funcionam bem com rotinas e previsibilidade, mas às vezes, estas necessidades podem ser um obstáculo para uma alimentação mais adequada e saudável. Pelo que é importante procurar criar uma rotina saudável desde cedo.