Colocar limites ou dizer não, muitas vezes leva à frustração, o que leva consequentemente a respostas emocionais que se podem traduzem em comportamentos mais indesejados e desafiantes.
Que estratégias podemos usar para facilitar e/ou gerir quando estas situações acontecem?
Antes de mais, é importante analisarmos se todos os “nãos” que utilizamos para repreender são efetivamente todos necessários. Muitas vezes dizemos não de forma automática mas será sempre necessário usar essa palavra? Claro que alguns “nãos” são fundamentais e não podem ser evitados, mas também existem muitos que podemos poupar.
Por exemplo, imagina que a pessoa que acompanhas quer calçar uns sapatos que já não lhe serve porque são muito pequenos. Nesta situação podemos evitar o não e deixar a pessoa explorar por si própria que se calhar aquele calçado não será o mais adequado para ela usar.
Agora imagina que a pessoa que acompanhas está contigo na rua e começa a correr. Aí o nosso não deve entrar em ação sem dar margem para dúvidas, pois falamos de uma situação de perigo que poderá correr mal.
Como escolher os nossos limites?
Para termos uma ideia mais clara dos nãos que podemos poupar e dos que podemos dizer… Podemos começar por fazer uma lista com as situações em que usualmente os usamos. Dessas situações podemos ver quais podemos deixar e dar a oportunidade à pessoa de explorar a situação por si. A ideia é não sobrecarregar demasiado a pessoa e dar-lhe alguma liberdade de autoaprendizagem.
Depois de feita essa lista, que estratégias posso continuar a aplicar?
Um aspeto bastante relevante, que pode fazer toda a diferença, que por vezes não nos lembramos de fazer, é sempre que delineamos um limite não oferecermos uma alternativa.
Por exemplo, no caso da pessoa querer correr na rua. Podemos deixar bem claro que não queremos que o faça usando a palavra “não” de forma clara e consistente mas podemos fazê-lo de uma forma diferente.
Podemos explicar tranquilamente o porquê de não o poder fazer mas que se quiser poderá ir até ao parque, jardim, casa e correr aí pois sabemos que é algo que gosta de fazer.
A ideia é conseguir oferecer uma alternativa que corresponda à expectativa dela e mostrar-lhe que existe sempre alternativas. Ao termos esta abordagem estamos também a ajudar a pessoa a criar estratégias para coisas que não pode fazer e a procurar alternativas de outras coisas que possa e que lhe transmitam a mesma sensação que procura. Ao criarmos este processo e ao ajudar a desenvolver novas estratégias iremos ajudá-la a não ficar presa e estagnada no sentimento de frustração que geralmente ocorre a seguir a situações destas, o que por sua vez despoleta na maior parte das vezes os tais comportamentos indesejados. Ou seja, a probabilidade de a pessoa usar a birra, a agressividade ou outro comportamento desafiante para conseguir o sim, diminui consideravelmente.
Mas e se, mesmo após ter recebido a alternativa tem na mesma um comportamento indesejado?
Também pode acontecer a pessoa não aceitar a alternativa e ter na mesma um comportamento desajustado e nesse caso, temos duas hipóteses:
Primeiro passo:
Explicamos de forma tranquila à que entendemos que esteja chateada e aborrecida com a situação e ignoramos o comportamento. Caso esteja num ambiente seguro, podemos sair de ao pé dela, tendo em atenção que não haja nada no espaço com que se possa magoar ou que a coloque em perigo. Muitas pessoas quando ignoradas rapidamente largam o comportamento e acalmam-se automaticamente por perceber que não irá despertar qualquer reação em si nem irá fazer com que consiga o que quer.
Segundo passo:
Caso a pessoa, após sair do mesmo espaço que ela não se acalme e entre em crise, então aí deves ir para a segunda hipótese. Nesta situação a pessoa irá precisar da tua ajuda para se conseguir auto regular a nível emocional. Fala claramente e tranquilamente com ela. Explica-lhe que percebes que esteja chateada, aborrecida, até com raiva. Que no lugar dela sentirias o mesmo e que quando te sentes assim gostas sempre de um abraço, podendo oferecer-lhe esse reconforto caso ela aceite.
Podes ainda começar a cantarolar-lhe uma música mais calma, soprar-lhe para o rosto, transmitindo que está tudo bem… Fica com ela até acalmar, tenta-lhe dar o que ela necessita para relaxar mas nunca, em momento algum, volta atrás com a tua decisão de dizer não. Caso a pessoa avance para um comportamento de auto agressão como por exemplo bater com a cabeça na parede, tenta afastá-la da parede ou coloca uma almofada no meio para não se magoar. Mantêm a consistência da tua decisão e em caso algum cedas.
O que acontece se cederes após a pessoa ter um comportamento indesejado?
Todo o comportamento é uma forma de comunicação. Ora, os comportamentos indesejados não fogem à regra. A pessoa está a lidar e a comunicar a sua frustração da forma que pode e consegue. No espetro do autismo, as pessoas têm uma dificuldade acrescida em comunicar, daí muitas vezes usarem este tipo de estratégias pois são as que geralmente resultam e são mais eficazes.
Se cederes após um comportamento indesejado, o que lhe irás estar a ensinar inconscientemente, é que isto tipo de comportamento resulta para ela conseguir o que quer.
Sempre que uma situação de “não” acontecer, irá pensar no que fez da última vez para conseguir o que queria. Vai se lembrar que este comportamento resultou e irá voltar a repeti-lo. A chave aqui é a consistência. Sabemos que custa ver uma pessoa chorar ou até a se auto magoar… Mas acredita que é o melhor para ela. Estás ajudá-la a lidar com a sua frustração. Estás a dar-lhe ferramentas para esticar a sua flexibilidade e aceitar outras alternativas ao que não consegue ou pode ter no momento. É um processo que a longo prazo trará benefícios para ambos.
Concluindo…
Sempre que disseres não, oferece alternativa. Se a pessoa aceitar ótimo! Se não aceitar e tiver um comportamento indesejado ótimo também! Vais iniciar um processo de aprendizagem com ela que a irá ajudar. Mantém-te firme, não cedas. Quando a situação estiver muito difícil de gerir… Lembra-te que estás a ajudar a pessoa a crescer e que por vezes esse processo implica dizeres-lhe que não. Mas sempre com muito amor e carinho.