Toda o comportamento é uma forma de comunicação. E no caso dos comportamentos desafiantes, estes não são exceção à regra. Existem de facto três razões principais para os comportamentos desafiantes:
1. Estão a tentar comunicar algo.
2. Querem ver a nossa reação.
3. Estão a tentar equilibrar uma sobrecarga sensorial.
Se a pessoa começar a gritar, a morder, a beliscar… É porque aprendeu que essa é a maneira de comunicar para conseguir o que quer. Se este comportamento para ela se verificar inútil, vai deixar de o fazer. Por variadas razões, essa forma de comunicação, é a forma de comunicação que consegue usar para comunicar e muitas vezes as nossas reações ou resposta a estes comportamentos têm um papel fundamental para encorajar ou diminuir este tipo de comportamentos.
Passo 1
Começa por analisar, qual a tua reação habitual? Quando a pessoa tem um comportamento indesejado, a tua reação habitual a esse comportamento é hostil ou mostras algum tipo de desconforto da tua parte? Caso a resposta seja afirmativa não te martirizes. Não tem mal nenhum, muitos de nós fazemos isso e passamos por isso. O importante é reconhecê-lo.
Ou antes pelo contrário, a tua primeira reação é ficar relaxado(a), de mente aberta e tranquila e tentar perceber o que a pessoa está a fazer? Não estamos a dizer que a segunda opção é a “certa” mas esta permite-nos estar confortáveis vs stressados e enervados, ter uma mente aberta para percebermos o que se passa e o que levou ao comportamento, e a ter uma atitude acolhedora, sem julgamentos, que servirá de convite para a pessoa começar a comunicar de outra forma.
Parece simples não parece? De facto é mais simples do que muitas vezes parece. Por vezes basta mudar a forma como encaramos e respondemos a estes comportamentos.
O que podemos então fazer para lidar com estes comportamentos indesejados?
Mantém a calma
Quando o comportamento aparecer não tenhas reação. Sabemos que não é fácil mas mantem a tua expressão facial e tom de voz neutro. Não grites, não sorries, não demonstres que estás aborrecido(a) com o comportamento. Começa a mover-te lentamente e em silêncio e minimiza a tua reação. Ficar chateado(a) ou frustrado(a) e dar ênfase ao que a pessoa está a fazer com explicações do género “Não faças isso! isso não se faz! pára de fazer isso!“, na maioria dos casos irá incentivar a pessoa a fazer mais.
Explica
Numa voz calma e carinhosa, explica que não percebes quando tenta comunicar contigo dessa forma. Diz-lhe que gostarias muito de ajudá-la mas que assim para ti é difícil. Mesmo que a pessoa seja ainda não verbal, a tua explicação é importante e a pessoa irá ouvi-la.
Evita dar o que a pessoa quer
Se deres à pessoa o que ela quer enquanto está a ter o comportamento indesejado, estás inconscientemente a ensinar-lhe que essa é a forma eficaz de comunicação, porque é assim que ela consegue o que quer. Mesmo que saibas o que é, tente evitar cair na tentação de ceder só para ela se acalmar. Pensa que estás a fazer o melhor para ela, estás a ajudá-la a usar outro tipo de comunicação – um tipo de comunicação que lhe seja realmente útil e que qualquer pessoa consiga entender.
Cuida de ti
Minimizar as reações não quer dizer que irás deixar que a pessoa te bata, morda, arranhe… Tenta colocar uma almofada ou uma bola de Pilates à tua frente para te protegeres e vai-te movendo lentamente para outro sítio.
Oferece alternativas
Queres lhe mostrar que a estás a tentar ajudar. Imagina que a pessoa te está a puxar o cabelo. Oferece-lhe por exemplo uma corda para puxar. Se estiver a atirar-te peças, oferece uma almofada para atirar. Se te estiver a tentar morder, oferece uma bola de borracha que dê para ela morder.
Sempre que a pessoa for gentil e te fizer pedidos da forma adequada, celebra
Expressa reações substanciais e move-te rapidamente para a pessoa perceber a diferença entre os dois tipos de comunicação.
Entende as causas do comportamento indesejado
Tenta analisar o que acontece antes, durante e/ou depois. Pode existir um padrão e caso esse padrão exista será mais fácil para ti prever e/ou antecipar o comportamento indesejado, conseguindo que este não aconteça sequer.
Por último…
Queremos modelar aquilo que queremos vs ensinar aquilo que não queremos.
Queremos ser o exemplo e a melhor forma de o fazer é modelar os comportamentos que queremos que desenvolvem vs estar constantemente a chamar-lhes a atenção do que não devem fazer.
Imagina este exemplo:
O Gustavo adora a cadela da família e gosta de a abraçar. Mas hoje de manhã a cadela começou a fugir dele e à medida que ela se afastava, o Gustavo tentava bater-lhe.
A abordagem típica para esta abordagem seria começar a repreender dizendo algo do género “não faças isso, isso não se faz!”, “pede desculpa à cadela, ela não fez nada para te magoar!“.
Uma forma de trabalhar e modelar este comportamento seria por exemplo, dirigir-nos calmamente em direção à cadela e em frente ao Gustavo dizer-lhe “Gosto tanto de ti Minnie e vou ser doce para ti e tratar-te com carinho“.
Por vezes dar ênfase ao comportamento negativo traz os resultados opostos. Modelar o que queremos, sem mencionar o comportamento indesejado nem tentar ensinar as razões pelo qual não o deve fazer, pode trazer benefícios a longo prazo.
Isto aplica-se a outros comportamentos, como por exemplo: “olha, desenha neste papel” vs “pára de desenhar nas paredes”, “gosto de abraços doces” vs “pára que me estás a magoar”, etc.