Acreditamos que a alimentação tem um papel bastante importante para a sua saúde e bem estar, no geral. E, especialmente no autismo, sabemos que existem ligações muito importantes entre alguns comportamentos e nutrição. Por exemplo, existem já vários estudos que apoiam a teoria de que o trigo e os lacticínios podem ter uma influência no comportamento de algumas pessoas com autismo. Isto porque o glúten e a caseína têm proteínas que se decompõem em moléculas idênticas a substâncias semelhantes ao ópio, o que pode ter impacto negativo num organismo mais sensível.
A verdade é que muitas pessoas com autismo têm alergias alimentares, eczemas, problemas gastrointestinais, intestinos presos e diarreia, candidíase, desregulações no sistema imunitário e distúrbios de sono.
No que toca a problemas gastrointestinais, por exemplo, algumas das pessoas com autismo têm síndrome do intestino permeável – significa que o intestino da pessoa é mais permeável do que o “normal”, permitindo que moléculas de grande dimensão (como as proteínas) sejam absorvidas nos intestinos. Assim, em vez de serem excretadas, estas moléculas são absorvidas para a corrente sanguínea.
A pesquisa sugere que o revestimento do intestino se torna inflamado e comprometido devido a uma combinação de bactérias que são prejudiciais para a saúde. Estes microrganismos são conhecidos como microbiomas. Muitos fatores podem causar esta inflamação, incluindo certos alimentos, fatores ambientais e o uso exagerado de antibióticos e outros medicamentos. Assim, esta inflamação conduz à condição da síndrome do intestino permeável ou hiperpermeabilidade intestinal. Quando a barreira intestinal é comprometida, o glúten e caseína parcialmente digeridos conseguem passar pela corrente sanguínea e, eventualmente, alcançar o cérebro.
Então por onde começar?
Numa primeira fase, é essencial realizar exames de forma a detetar se existe algum tipo de reação a produtos alérgenos, como por exemplo, glúten, caseína, milho ou soja.
Além disso, acreditamos ser fundamental ter cuidado com a quantidade de açúcar que a pessoa com autismo ingere diariamente (principalmente as crianças). Isto porque o seu consumo pode ter efeitos negativos, principalmente em pessoas mais sensíveis (e podem resultar em maior agitação, mais energia, etc.).
Muitas vezes, as pessoas com autismo têm alguma seletividade alimentar, o que pode ser desafiante. Se a pessoa com autismo consome maioritariamente produtos com glúten, caseína e açúcar, por exemplo, pode ser um sinal da sua intolerância ou sensibilidade.
Se estás determinado/a e decidido/a a mudar o tipo de alimentação da pessoa, nomeadamente eliminando glúten, caseína e/ou açúcar, primeiro é importante ter em consideração os seguintes aspetos:
1. Começa apenas quando tiveres a certeza
Se estiveres com dúvidas, a pessoa vai sentir e vai esperar até que cedas e lhe dês a tão desejada bolacha de chocolate que ela quer. É fundamental que estejas mentalmente preparado/a para ires até ao fim com a tua decisão. Explora que que outras alternativas alimentares existem para a pessoa com autismo – hoje em dia já existem variadas receitas online, sem glúten e sem caseína, a que podes aceder, fácil e gratuitamente.
2. Retira os alimentos proibidos
Certifica-te de que não existem em casa alimentos que a pessoa com autismo não pode comer, de forma a evitares situações de maior stress ou ansiedade, em que tens de dizer “não” à pessoa. Porque se tiveres em casa algum desses alimentos, ela vai encontrá-lo, quase de certeza.
3. Explica o motivo da mudança
Explica com informação adequada à compreensão da pessoa em que consiste a alimentação e que benefícios pode trazer. Faz isto, mesmo que a pessoa seja não verbal. Acreditamos que a pessoa com autismo, mesmo não verbal, percebe muitas vezes mais do que aquilo que transmite. O facto de não falar ou não responder, não significa que não entende ou que não te está a ouvir. Fala com ela e explica este processo de uma forma natural.
4. Deixa alimentos permitidos disponíveis
É importante teres vários alimentos permitidos disponíveis, em diferentes locais da casa, caso a pessoa tenha fome. Desta forma, a pessoa também se pode habituar aos novos cheiros, ao aspeto visual desses alimentos, bem como facilmente pegar e comer caso esteja com fome.
5. Adora a comida que vais oferecer à pessoa
Se não gostas ou adoras estes novos alimentos e se o mostras… porque razão há de a pessoa com autismo experimentar? Não tens de fingir. Podes experimentar em conjunto ou optar por alimentos que também gostes.
6. Elimina um alimento de cada vez
Se pretendes eliminar os três – glúten, caseína e açúcar -, começa com aquele que achas que será o mais fácil de tirar. Duas semanas depois retira o segundo e por aí adiante.
7. Aprende a ler rótulos
Para evitar que a pessoa coma, acidentalmente, alimentos não permitidos, é importante aprender a ler rótulos e indicações de cada alimento, pois por vezes alguns ingredientes podem estar “escondidos” com outros nomes.
8. Informa as outras pessoas
É importante que outras pessoas que lidam diariamente com a pessoa com autismo tenham conhecimento desta mudança na alimentação. Isto porque mesmo que seja em pouca quantidade, por exemplo, o trigo ou caseína pode ter impacto, pelo que é importante que todas as pessoas estejam informadas e saibam o que é ou não permitido.