A área da comunicação verbal engloba dois aspetos fundamentais: 1. alguém falar e 2. alguém estar a ouvir.
Para pessoas com autismo, esta área pode ser muito desafiante. Mesmo para pessoas com autismo que têm uma comunicação verbal bem desenvolvida – vocabulário extenso, capacidade de fazer frases, responder a perguntas, etc -, pode ser difícil, por exemplo, manter um diálogo sobre um tema que não seja dentro do seu foco de interesse, ou partilhar experiências/emoções/sentimentos.
Então, que estratégias podemos utilizar para ajudar as nossas crianças a usarem mais a comunicação verbal?
1. Sê um exemplo
Fala com a pessoa com autismo como se estivesses a falar com outra pessoa sem dificuldades a esse nível. Explica-lhe ao pormenor o que está a acontecer. Por exemplo, imagina que vai sair de casa para ir ao supermercado, explica ao detalhe onde vais, o que vais fazer e porque vais lá. Partilha com ela como foi o teu dia, como te sentiste, o que mais gostaste de fazer, como te sentes agora que chegaste a casa. Mesmo que a pessoa não esteja a olhar para ti ou a falar consigo, não quer dizer que não esteja a ouvir.
2. Mostra interesse e disponibilidade para conversar sobre o que lhe interessa
Se queremos ser um modelo, então não basta querermos que a pessoa fale connosco sobre o que nos interessa, também temos de mostrar interesse no que lhe interessa a ela (dinossauros, comboios, perguntas repetitivas como “que horas são” ou “o que aconteceu em 1940?”). Se queremos que converse connosco sobre outros tópicos, primeiro temos de mostrar-lhe que nós também estamos dispostos a fazê-lo. Começamos nós esse caminho, para aos poucos conseguirmos flexibilizar e orientar a conversa para outros temas.
3. Faz perguntas
Se a pessoa estiver a falar contigo sobre seja que tema for, faz-lhe perguntas. Esta é uma forma de mostrares interesse no que está a partilhar contigo e promoveres a comunicação. Ao fazê-lo vais estar a abrir uma janela de oportunidade, a criar uma ligação com a pessoa e depois de conseguires construir essa ligação, será mais fácil introduzires – devagar – outros temas ou fazer perguntas sobre outras coisas. Numa fase inicial, começa sempre com o interesse da pessoa e, pouco a pouco, vais esticando a sua flexibilidade para outros temas.
4. Comenta
Quando a pessoa partilha algo contigo, comenta sobre essa informação. Explica-lhe que gostas quando e partilha essas coisas contigo, que gostas muito de a ouvir e agradece o facto de ela ter partilhado. Podes comentar algo sobre o que acabou de te dizer, algo que esteja relacionado e que cative a atenção da pessoa para permanecer no diálogo contigo. Podes comentar que adorarias saber mais sobre o que acabou de partilhar. Em vez de a corrigires de forma contínua ou tentares mudar de imediato o rumo da conversa, celebra o facto de ela estar a comunicar contigo e constrói um diálogo com base nessa interação. Faz com que a pessoa se sinta ouvida e mostra que tens interesse e prazer genuíno em ouvi-la falar e partilhar a sua opinião.
5. Partilhe uma história parecida
Assim, cria pontos em comum e inspire a pessoa a comunicar mais contigo, sentindo-se ouvida e compreendida e percebendo semelhanças entre ti e ela.
6. Dá espaço para falar
Ouve mais e fala menos. Não tenhas medo dos momentos de silêncio. As pessoas com autismo podem demorar mais tempo a processar e verbalizar a informação, nesse sentido, dando estes espaços de silêncio, estás a dar-lhe o tempo e o espaço para o fazerem, caso queiram. Outra coisa que acontece nestas situações em que oferecemos espaço, é que estamos nós também mais atentos ao que nos dizem e, consequentemente, mais presentes e disponíveis para a pessoa – estamos a ouvir ativamente. Por outro lado, quando estamos sempre a falar, estamos, inconscientemente, a pedir à outra pessoa que oiça e não que fale. O silêncio pode encorajar a pessoa a falar, em vez de só ouvir!
7. Cria pausas
No seguimento do que dissemos anteriormente, quando fizeres uma pergunta, por exemplo, faz uma pausa de seguida e dá-lhe tempo e espaço para poder responder. Algumas pessoas podem demorar até 3 a 4 minutos a responder, por exemplo.
8. Modera as solicitações
Queremos tanto que a pessoa fale connosco que, muitas vezes, solicitamos demasiado que comuniquem, criando uma pressão muito grande em torno desta área e tornando, assim, a comunicação verbal uma área ainda mais desafiante. Uma abordagem mais eficaz seria aprofundar o seu nível de ligação com a pessoa com autismo, através de um jogo ou atividade que seja do verdadeiro interesse dela, sem a pressão ou a necessidade de falar obrigatoriamente. A chave está em motivar a pessoa com autismo a “querer” falar connosco. Envolve-te naquilo que ela mais gosta de fazer e será mais fácil desenvolveres esta área.
9. Recria situações sociais
Começa a modelar expressões ou frases específicas que gostarias que a pessoa aprendesse. Recria, por exemplo, através de um jogo ou atividade (tendo em conta as motivações), a ida ao supermercado: monta uma espécie de mercearia e mostra-lhe como interagir contigo. Podes ainda falar através de fantoches ou bonecos para a pessoa praticar as suas capacidades de conversação. Para algumas pessoas com autismo pode ser mais fácil, pois neste caso não há uma interação tão direta e não se sentem tão intimidadas com uma conversa mais direta. Podem responder mais facilmente a perguntas de “porquê” ou relacionadas com sentimentos se recorrermos à ajuda de uma das suas personagens favoritas, como por exemplo, um peluche do Mickey Mouse, Dora a Exploradora – pois será a sua personagem favorita a fazer-lhe as perguntas.
Resumindo…
Se queres que a pessoa fale mais, o primeiro passo será dar-lhe espaço para o fazer. Isso irá implicar que: 1. fales menos, 2. te sintas confortável com o silêncio, 3. te foques no ouvir.
Ajuda a pessoa com autismo a construir confiança em comunicar socialmente. As pessoas com autismo ficam mais motivadas a usarem as suas competências verbais com os outros, quando lhes é mostrado os benefícios que isso lhes pode trazer.