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Vamos falar sobre estereotipias…

20 de Março de 2020 – vencerautismo

O que são as estereotipias, stims ou comportamentos repetitivos?

“(…) é como desligar o rádio quando pensas que cheira a alguma coisa a queimar. É uma maneira de desligar os outros sentidos para teres a certeza de que nada está a queimar”. Lamar Hardwick
A estereotipia é qualquer comportamento motor, verbal ou emocional que acontece de maneira repetitiva e sem motivo aparente para quem observa. Existem várias, mas deixamos aqui alguns exemplos mais comuns:

  • Balançar as mãos
  • Girar em torno de si mesmo
  • Observar objetos que giram
  • Balançar o corpo para frente e para trás
  • Deixar o olhar fixo em um objeto e movimentar apenas a cabeça
  • Fazer sons
  • Alinhar objetos
  • Repetir frases, palavras, partes de músicas ou filmes fora do contexto considerado adequado
  • Gritar sem motivo aparente
  • Perguntas repetitivas

Estes são só alguns exemplos. Relembramos que todas as pessoas são únicas e, por isso, todas têm estereotipias diferentes consoante as suas motivações, interesses e, também, a sua idade.

Assim, as esteriotipias podem ser definidas como um comportamento que é repetitivo e exclusivo – ou seja, algo que a pessoa faz sozinha e de forma repetida.

Ao longo do seu desenvolvimento, é comum as pessoas com autismo irem desenvolvendo estereotipias diferentes e que podem manifestar-se como rituais, rotinas e compulsões. Por outro lado, também se podem tornar habilidades, como gostar de futebol e saber tudo sobre esse tema, quais as regras, equipas nacionais e internacionais, querer colecionar revistas sobre esse tema ou querer falar sempre contigo sobre isso.

Na verdade, todos nós temos as nossas estereotipias. No entanto, estas acabam por ser mais “disfarçadas”, pois não são tão frequentes, vistosas e são, por norma, mais aceites socialmente, tais como: abanar o pé, fazer rabiscos numa folha, clicar na caneta, enrolar o cabelo repetidamente, roer as unhas ou morder a tampa da caneta, entre outros.

Porque é que as estereotipias são importantes?

“Às vezes a estimulação sensorial é demais, e eu sinto que poderia explodir. Estereotipia é libertar a tensão e faz-me sentir muito mais calma”. Lucy Clapham

“Ajuda o meu corpo a regular a informação sensorial do mundo”. Laura Ivanova Smith

Autorregulação

As estereotipias são comportamentos autorreguladores que surgem de uma necessidade que a pessoa tem e que não está a ser atendida. Às vezes, essa necessidade é até desconhecida, mas pode ser causada pela hipersensibilidade em relação aos estímulos externos e é a forma mais eficaz que tem para se controlar e acalmar. Por exemplo, se estiver num ambiente com muito barulho/luz ou num lugar que lhe crie stress ou ansiedade, a pessoa pode procurar a estereotipia para se acalmar e autorregular. Por outro lado, negar ou proibir que a pessoa faça a sua estereotipia pode levar a uma crise.

Previsibilidade

Além disso, uma outra razão para as pessoas com autismo fazerem estereotipias é para criar previsibilidade. Ou seja, a pessoa procura ter uma vida mais previsível num mundo que não consegue controlar. Por isso, usa comportamentos repetitivos e exclusivos para obter essa previsibilidade e saber o que virá a seguir. O comportamento repetitivo é sempre igual; por exemplo, ao balançar-se sabe que agora vai para a frente e depois vai para trás. O nosso mundo é uma constante de imprevisibilidade e estímulos e a estereotipia traz conforto e controlo.

É fundamental entendermos que a estereotipia não é um problema, mas sim uma solução. É uma forma de a pessoa se sentir mais confortável, tranquila e relaxada. Ao aprendermos a aceitar, respeitar e não julgar, será mais fácil iniciar e criar uma relação com a pessoa com autismo. Criar qualquer relação começa com a base de um interesse em comum e, no caso das pessoas com autismo não é diferente. Começa por seguir os interesses da pessoa, mostrar interesse no que ela faz, gostar do que ela gosta e fazer com ela o que ela faz e gosta de fazer.

Como lidar com as estereotipias?

Em vez de travar ou desviar a atenção da pessoa para outra coisa, já experimentaste juntares-te à pessoa na sua estereotipia? Juntares-te à pessoa tem um papel fundamental (se a pessoa aceitar/gostar). Demonstras que tens interesse no que está a fazer, que pode contar contigo, pode confiar em ti, pois não vais obrigá-la a parar de fazer algo que lhe faz bem. Ao teres esta abordagem, estás a dar atenção à pessoa, que é o teu objetivo e tens uma oportunidade de te conectares verdadeiramente com ela. Vê a técnica do “juntar” como uma porta para a interação humana e social.

Como te podes juntar à estereotipia?

Juntar não é uma perda de tempo. Acredita, é importante para a pessoa com autismo. Mesmo que ela não esteja a olhar diretamente para ti ou a interagir, ela sabe que, se estás a fazer o mesmo, é porque estás interessado/a nela. E isso é uma enorme motivação para, eventualmente, a pessoa querer interagir contigo. E quanto mais te juntares, mais fácil poderá ser a pessoa aceitar uma nova interação mais tarde. Quando a pessoa estiver em estereotipia é a tua oportunidade oportunidade de te conectares. Lembra-te, esta é a melhor maneira de mostrares à pessoa o quanto a amas e o quanto queres juntar-te e conectar com ela. Partilhamos, então, contigo algumas dicas:

1.Mantém alguma distância

Cerca de um metro e meio, costuma ser suficiente. Por vezes, principalmente no início, quando existe distância física, a pessoa fica mais relaxada e aceita mais facilmente a tua presença. Mas deves ter em consideração que a pessoa te consiga ver.

2. Observa

Cria um “retrato visual” do que estás a ver a pessoa a fazer. Presta atenção a todos os detalhes da estereotipia e tenta encontrar algo que te seja igualmente agradável e que possas gostar dentro desse comportamento. A ideia não é imitar por si só. É perceber qual o ritmo, a cadência, quais as sensações que a pessoa retira daquele comportamento e reproduzir à tua maneira, sem estares focado/a em imitar na perfeição, mas sim a tentar sentir o que ela está a sentir.

3. Cria o teu próprio espaço

Se a pessoa está a correr à volta de uma mesa, corre à volta de outro móvel, em vez de a seguires. Se, por outro lado, está a alinhar objetos, alinha outros objetos que não sejam os que ela está a usar. E, se ela te tirar os objetos, não recuses, continuem a fazer o movimento, mesmo sem objetos – faz de conta! E, repara, que a pessoa já está a mostrar interesse em ti e no que estás a fazer!

No entanto, permite que te tire os objetos e dá-lhe total controlo. Se a estereotipia for em palavras, repete o que a pessoa diz, mas num tom mais abaixo para não atropelar o que ela está a dizer e criares demasiado estímulo. Se a estereotipia for uma conversa do mesmo assunto ou perguntas repetitivas, entra na conversa com todo o teu interesse e entusiasmo! Assim, vais estar a respeitar o espaço dela e entrar calmamente na sua brincadeira e estereotipia.

4. Divirte-te!

Sorrie, rie-te, faz de coração e com animação. É para estares a 100% com a pessoa. Ao juntares-te, ao estares feliz e animado/a nas suas brincadeiras e estereotipias, vais mostrar que a amas tal como ela é e vais estar cada vez mais próximo/a dela. E assim, quanto mais te juntares, mais irás aprender sobre a pessoa com autismo. Vais entender as suas motivações e interesses e isso vai ajudar-te a tornares-te mais próximo dela e teres mais conhecimentos para a ajudares.

5. Relaxa

Não procures constantemente um olhar ou uma resposta por parte da pessoa com autismo. Em vez disso, observa a sua atividade, desfruta da atividade e fica atento/a quando ela te mostrar qualquer sinal de abertura para interação. Quando a pessoa aceitar a tua interação, quando ela olhar para ti, quando ela te responder… Celebra! Agradece! Festeja! É importante que a pessoa com autismo perceba que isso é algo positivo e que olhar, responder, interagir contigo é bom!

6. Esforço, paciência e persistência.

É importante saberes respeitar o espaço e ritmo da pessoa e deixá-la liderar este caminho inicial. Tem em foco o teu objetivo: criar uma relação com a pessoa, mas sem esquecer da importância de lhe dar espaço quando ela não quiser interagir.

Esperamos que te divirtas e desfrutes ao máximo!

Podes aprender mais sobre este tema através das nossas Masterclasses:

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