As birras aparecem por diversas razões e vamos mostrar o que é que a pessoa com autismo nos quer transmitir e qual é a melhor forma de reagir. As dicas que iremos apresentar podem ajudar qualquer pessoa, seja qual for a sua idade ou diagnóstico. O objetivo das próximas sugestões são para que a pessoa com autismo consiga comunicar de forma mais calma e descontraída e perceber que com gritos, choros e birras não é a melhor forma de comunicar e expressar o que sente.
Mas afinal, o que as birras transmitem?
Comunicação
Quando a pessoa chora, grita, bate com pés, destrói algo… está simplesmente a tentar comunicar connosco. É apenas a ferramenta que ela encontra para mostrar que algo não está bem – encontra-se num ambiente demasiado estimulante ou estão a tentar interromper a sua estereotipia – ou que quer algo – comer um alimento, ver televisão, ir à rua, entre outras razões.
E o que posso fazer?
Não corras e não fiques aflito/a
Se ficares aflito/a e correres para fazer o que a pessoa quer, quando chora, grita ou faz birra, estás a dar-lhe a resposta de que aquela forma de comunicação é a melhor para ela conseguir o que quer. Ao reagires dessa maneira ao seu comportamento, estás a mostrar-lhe que paras tudo o que estás a fazer para lhe dares o que ela quer. Ela vai perceber que só assim é que vai conseguir o que quer pois de outra forma não conseguiria. E se ela gostar de reações exageradas, é um bónus para ela ver-te assim e até se diverte com toda a atenção que lhe dás.
Atitude
Mantém-te calmo/a e o mais à vontade possível. É altura de fazeres totalmente o contrário da reação de aflição e de correres como se fosses apagar um fogo. Move-te devagar até à pessoa com autismo e fala com calma e mostra-te confuso/a quando estiveres a ajudá-la a obter o que quer. Se ela não for verbal, mostra-lhe diversas alternativas perguntando, com calma, “é isto que queres?” e só no fim da terceira ou quarta alternativa é que lhe dás o que pensas que ela pretende, esperando que esta esteja calma antes de lhe dares o que quer.
Se a pessoa for verbal, diz-lhe algo como “não consigo perceber porque estás a chorar, se falares eu posso conseguir ajudar-te” ou “não preciso que grites, se falares com calma e devagar eu vou responder-te ao que tu queres”, dizendo sempre com toda a calma do mundo. Mesmo sendo não verbal, é importante fazer-lhe perguntas e falares com calma explicando que assim não vai conseguir o que pretende. Ela também o irá perceber. Não te esqueças que a forma como respondes, a tua atitude, influencia a resposta da pessoa.
Não cedas, apresenta outras alternativas
A pessoa com autismo pode chorar, ou fazer birra, por não lhe dares mais bolachas ou por não a deixares sair à rua porque está a chover ou por não a deixares jogar mais computador ou outra qualquer razão.
Seja qual for a situação, tenta sempre manter a calma e não te apresses em dar-lhe resposta à birra. Explica-lhe, sempre mantendo um tom baixo (por vezes faz com que a pessoa diminua o som da birra para te ouvir), que ela não vai conseguir o que quer ao chorar e a fazer birra. Fá-lo de maneira suave e simpática, não zangada, stressada ou frustrada. Após realizares esta explicação várias vezes, apresenta alternativas à atividade que ela deseja pois não será mesmo possível. Por exemplo, oferece-lhe fruta em vez de mais bolachas, sugere brincarem dentro de casa e apresenta atividades que tenham, em vez de irem à rua ou de jogar mais computador. Relembramos a importância da atitude ao quando apresentamos essas alternativas, com todo o entusiasmo e positividade.
E se, mesmo assim, ela continuar a chorar e a fazer birra?
Se a pessoa com autismo não responder de forma calma, se não aceitar nenhuma das alternativas e continuar a chorar e a fazer birra, vai fazer outra coisa qualquer não dando mais atenção à birra, como ler um livro, olhar pela janela, sentar-te e não lhe dar tanta atenção ou fazer uma atividade doméstica e deixa-a chorar, sempre de olho nela para garantir que não magoa ninguém, nem a ela própria nem a outro.
Sê forte e consistente
Lembra-te que a pessoa com autismo não é frágil e pode chorar o tempo que ela desejar. E tu também não és frágil, consegues aguentar vê-la chorar e gritar. Tem em mente que as primeiras vezes podem ser difíceis de a pessoa ceder, principalmente se ela estiver habituada a outras reações e respostas à birra. E acredita, elas conseguem ser bem persistentes, mas pensa para ti mesmo “eu sou mais persistente” e recorda-te que isso trará mais calma e melhores respostas futuramente.
Escolhe um lugar calmo
Se possível, na altura que estiver a acontecer a birra, leva a pessoa com autismo, sempre com calma e sem pressões, para um lugar mais tranquilo e segue as dicas acima referidas. Quando estamos num lugar mais calmo e fora de outras distrações, toda a atenção vai para ti e para as tuas palavras. Para além disso, como já referido, por vezes a birra até pode ser provocada por se encontrarem num sítio demasiado estimulante para a pessoa e, assim, poderás perceber se poderá ser essa a razão.
Celebra e corre quando conseguir!
Se a pessoa com autismo não chorar nem fizer birra quando não lhe deres aquilo que ela quer, celebra esse acontecimento. Diz-lhe que estás muito feliz por ela estar calma e sem problemas e mostra-o com todo o teu carinho e amor. Corre em direção para o que ela está a pedir se estiver a fazê-lo com calma e descontraída. Assim ela entenderá que essa é a melhor forma de conseguir o que quer, e não com birras. Para pessoas com autismo não verbais, aproveita esta altura onde ela pede algo, e tenta conseguir que ela emita algum som, alguma sílaba ou palavra do que ela quer.
Celebra também outras situações em que a pessoa se mostrou calma e bem-disposta, mostrando-lhe que ficaste imensamente feliz com o comportamento dela, com carinhos e pulos de alegria. Se for uma pessoa que goste de reações exageradas, nestas alturas é importante aproveitar isso para a parte positiva!
Importante!
Estas dicas são apenas uma orientação e temos sempre que adaptar aos casos individuais. Por exemplo, se a pessoa com autismo se magoar e chorar, é evidente que deves rapidamente responder-lhe. Ou se for partir alguma coisa, deves impedir que isso aconteça, mas tenta sempre reagir com calma e sem te mostrares chateado/a ou frustrado/a.
Não te julgues
E, por fim, queremos dizer-te para não te julgares quando não conseguires. Pode não ser à primeira, nem à segunda nem à terceira que consegues que a pessoa seja calma. E a birra e o choro às vezes podem durar uma hora ou mais. Mas acredita, é muito importante ires trabalhando as respostas às birras e teres atitude, persistência e não desistir para teres resultados futuros.
Caminharemos para o melhor das pessoas com autismo 🙂