A área da flexibilidade está muito relacionada com a necessidade de controlo para as pessoas com autismo conseguirem algum conforto sobre o mundo à sua volta que é muito imprevisível e que pouco conseguem controlar.
Quando estamos numa situação em que não temos controlo, muitas vezes não entendemos o que está acontecer e temos demasiado inputs para processar, reagimos de uma forma muito particular. Temos tendência a ser mais resistentes, menos flexíveis e não tão abertos ao que está acontecer – ativamos os nossos mecanismos de defesa. E no autismo funciona exatamente da mesma forma, mas de uma forma bem mais intensa.
Quando as pessoas dentro do espectro parecem estar a ser resistentes, rígidas, controladoras – estão a fazer o mesmo. Estão a tentar-se proteger de um ambiente que não controlam e no qual não encontram conforto e segurança. Contudo a flexibilidade é um músculo que também se trabalha e nesse sentido partilhamos algumas dicas para trabalhar esta área e esticar a flexibilidade da pessoas que acompanhas.
Oferece pequenas variações nas coisas que já faz
Numa fase inicial, pensa em variações que não mudem o seu foco de interesse ou aquilo que está a fazer. Podes por exemplo cantar uma música quando se estão a vestir, fazer uma dança quando chega a hora do pequeno almoço ou dos desenhos animados, etc. Ou seja, a ideia é adicionar elementos novos mas que numa primeira fase não mudem a 100% o que está a acontecer, apenas acrescentem algo à situação.
Podes começar por introduzir variações que estejam relacionadas com coisas que gosta, assim será mais fácil para ela aceitar essas pequenas “mudanças” na rotina dela. À medida que vai aceitando essas pequenas variações, podes ir aumentando as variações e tentar por exemplo mudar a ordem das coisas, mas numa fase em que sintas que está mais aberta e flexível a isso.
Sê super flexível e responsivo(a)
Se estão numa brincadeira e ela quer todos os brinquedos ou rouba os teus, deixa-a fazer. Quando te diz de forma clara que não quer que faças algo ou não quer que toques em algo – dá-lhe controlo e não o faças. Se ela quer brincar com os carros durante uma hora, então junta-te a ela e brinca com os carros durante uma hora. Isto irá ajudar a construir confiança e a deixá-la também mais relaxada.
Usa explicações e dá previsibilidade se houver alguma alteração na rotina
Explica de forma simples e clara porquê. Por exemplo imagina que hoje têm uma consulta no dentista. Dá-lhe essa previsibilidade com tempo. Podes fazer um calendário – recorrer a estímulos visuais ou auditivos para ajudá-la a assimilar o que irá acontecer.
Não tenhas receio de cometer “erros”
Se a pessoa que acompanhas está a conduzir a atividade e faz-o sempre da mesma forma, passado algum momento de estar com ela em interação comete um “erro” simples. Por exemplo quando ela te pede para fazer algo de uma certa forma, engana-te a fazer e faz de forma diferente. Se ela a chamar a atenção explica “Ops fiz de uma forma diferente! Mas também é engraçado fazer de forma diferente”.
Recorre à tua atitude: reage de forma tonta e engraçada
Geralmente quando algo acontece fora da zona de conforto da pessoa com autismo, temos tendência a nós próprios ficarmos desconfortáveis ou ansiosos com a situação, pois podemos prever como irá reagir. Por exemplo, se a pessoa está habituada a jantar sempre à mesma hora mas desta vez têm de jantar mais cedo podes fazer uma brincadeira com isso. Por exemplo, meter as mãos à cabeça e dizer “Oh a hora do jantar chegou mais cedo” e podes começar a ir em slow motion para a mesa de jantar e recorrer a expressões faciais mais engraçadas e exageradas. Pensa naquilo que ela gosta e a poderia ajudar a aceitar mais facilmente a mudança de situação.
Dicas extra
Quando estão numa atividade e queres trabalhar a parte da flexibilidade, podes colocar algumas perguntas ou fazer alguns comentários para esticar a sua flexibilidade. Tais como:
“Oh meu deus, tens de experimentar o meu jogo! É tão engraçado e divertido!”
“Tive uma ideia incrível! Vamos ver como é fazer esta brincadeira espetacular de forma diferente!”
“Estacionar o teu carro nesse lugar é espetacular! Vamos tentar estacioná-lo neste lugar também!”
“Yeah! Eu sei que adoras a peça azul! Desta vez podemos tentar algo diferente! Que outro peça gostarias de escolher?”
Falamos nisto várias vezes, mas a atitude também é muito importante. Pensa que sempre que a pessoas que acompanhas recusar algo que estás a propor ou várias coisas, nada tem a ver contigo ou com a capacidade dela de fazer ou não a tarefa, apenas ainda não é o timing certo. Mas acredita que ele chegará!