Por norma, quando as as pessoas com autismo são mais rígidas ou controladoras, a nossa tendência é tentar “quebrar” esse comportamento controlador. E tentamos retirar o controlo à sua volta.
O problema de ir por este caminho é que acaba por ser altamente contraproducente. Afirmar o controlo sobre alguém que está a tentar controlar leva a pessoa a ser ainda mais controladora.
Quando as crianças sentem o seu controlo recusado, a tendência é lutar para restabelecer esse controlo e autonomia pessoal.
Batalhas de controlo
Muitas vezes temos tendência a entrar em batalhas de controlo com as pessoas com autismo. Contudo, é importante que se escolha cuidadosamente, quais as queremos entrar e quais aquelas que podemos deixar de lado e ceder.
Quando as pessoas estão numa experiência em que não têm controlo sobre a situação, podem reagir de forma muito particular. E vão procurar a melhor forma de ganharem essa sensação de controlo.
Esta procura de controlo por parte das pessoas com autismo, existe por dois grandes fatores: desafios de processamento sensorial e problemas de reconhecimento de padrões. Desta forma, as pessoas com autismo procuram situações nas quais possam exercer a sua própria autonomia vs ter a sua experiência determinada por outras pessoas, O que faz, que vão acabar por resistir intensamente a quaisquer esforços de tentarem impor controlo sobre elas.
Exemplo prático
Costumamos dar muitas vezes este exemplo, o exemplo de uma corda com um nó num meio. Se duas pessoas puxarem a corda de cada lado e se nenhuma delas ceder, a tendência do nó apertar será cada vez maior, não se conseguindo desfazer o nós. Mas se em contrapartida, um dos lados soltar um pouco, a corda ganha folga e será mais fácil desfazer o nó.
No caso das pessoas com autismo, passa-se exatamente o mesmo. Por vezes temos de soltar um pouco a corda para ajudar a pessoa a sair dessa forma controladora. Quando forçamos as pessoas a fazer certas coisas como por exemplo lavar os dentes, escovar o cabelo, etc – podemos resolver a situação momentaneamente mas o problema desta abordagem é que a pessoa irá associar a aprendizagem a fazer algo com pressão e desconforto.
Este controlo que lhes queremos dar numa fase inicial, não é para sempre. Por enquanto, queremos proporcionar-lhes uma situação que podem tolerar e de seguida, ajudá-las a avançar pouco a pouco, num ambiente acolhedor, divertido e de confiança.
Quando as pessoas com autismo ultrapassam os seus desafios, tornam-se mais interativas, mais comunicativas, mais abertas.
Como podemos dar mais controlo?
Recorre sempre que puderes a explicações. Muitas vezes caímos no erro de achar que as pessoas com autismo não entendem, mas não é por não falarem connosco, que não entendem o que temos para lhes dizer.
Por vezes temos de sair para uma consulta e avisamos no momento que vamos sair de casa que temos ir embora, mas não explicamos à pessoa onde vamos, nem fazer o quê. Ela recebe a informação que tem de sair de casa, parar muitas vezes de fazer algo que estava a gostar, no momento que tem de sair de casa e fica tudo muito confuso para ela, pois são várias coisas que tem de assimilar ao mesmo tempo.
O que é óbvio para nós pode não o ser para elas. Por vezes é necessário dar explicações detalhadas do que irá acontecer e porquê. Estas explicações ajuda a assimilarem a ideia do que irá acontecer e quando o momento chegar já não será novidade pois anteriormente teve tempo de interiorizar a mensagem que lhe estávamos a tentar passar.
Em que outras situações podes dar controlo?
Sempre que puderes, em situações do dia-a-dia, deixa a pessoa com autismo escolher o que quer. Por exemplo, na hora da sopa pergunta-lhe se quer duas ou três colheres de sopa. Quando estiveres a voltar da escola a pé e poderes ir por dois caminhos diferentes, deixa a pessoa escolher qual o caminho que quer fazer.
Ao dar estas opção de escolha e a pessoa puder escolher, vai-lhe dar sensação de controlo pois irá sentir que foi ela que decidiu o que irá acontecer a seguir. Cria vários momentos e oportunidades ao longo do dia para ela poder escolher. Momentos que não interfiram com a vossa dinâmica e que não haja problema de ser ela a escolher.
Quando estiveres numa brincadeira ou atividade, deixa ela liderar o caminho. Faz o que ela está a fazer vs propor uma atividade nova. Brinca do que está a brincar e se ela te disser que “não” respeita o “não”. Celebra o facto de o ter comunicado e mais importante, não faças o que ela te pediu claramente para não fazer. Queremos que percebam que somos pessoas em quem podem confiar, que as ouvimos e respeitamos o que nos dizem.
Em suma
Quando damos às pessoas com autismo controlo absoluto o que vemos é que se aproximam mais de nós, querem interagir mais connosco porque somos 100% previsíveis e isso é muito importante. Pessoas com autismo sentem o mundo incrivelmente imprevisível. Na verdade, queremos ser as melhores pessoas com quem podem estar, para as ajudar nos seus desafios e ajudá-las a interagir cada vez mais e mais com o mundo à sua volta. 😊