A maior parte das vezes focamo-nos naquilo que a pessoa com autismo ainda não consegue fazer. Mas também é importante observarmos o que já consegue fazer e acreditarmos no seu potencial. Se conseguirmos mudar a nossa perspetiva e estar gratos pelo o que ela já faz, em vez de nos focarmos no que ainda não faz, tudo para nós será mais fácil.
Claro que temos sonhos para a pessoa com autismo e queremos para ela o melhor. Mas focar-nos no que ainda não faz e era suposto fazer, tendo como comparação as pessoas neurotípicas da sua idade, não nos irá ajudar. Antes pelo contrário, pois pode dar espaço a muita ansiedade, preocupação e frustração.
Respeitar e aceitar o ritmo da pessoa com autismo
A pessoa com autismo tem o seu caminho a percorrer e é importante respeitar e seguir o seu ritmo, passinho a passinho, milímetro a milímetro.
Temos de começar pela base, perceber em que fase do desenvolvimento está a pessoa e por onde podemos começar. Quando começamos a trabalhar com as pessoa com autismo entram aqui dois factores fundamentais para as conseguirmos ajudar: 1) aceitarmos onde está a pessoa neste momento e 2) sentirmo-nos tranquilos com isso.
Um fator determinante para ajudarmos a pessoa é nós estarmos confortáveis com a situação, com os seus comportamentos e com a sua realidade.
Cuidadores felizes fazem pessoas com autismo felizes e pessoas com autismo felizes fazem cuidadores felizes… Desde o início da Vencer Autismo que damos muita importância a este objetivo. Isto porque, sabemos que um/a cuidador/a que se sente mais à vontade na presença da pessoa com autismo faz aumentar as probabilidades de ter mais e melhor interação, além de estar num lugar que lhe permite tomar melhores decisões.
Atitude do cuidador
Outro aspecto importante é acreditar que as possibilidades são infinitas e que, embora ainda não faça certas coisas, tem potencial e capacidades para lá chegar.
Quando trabalhamos com as pessoas com autismo com base nessas duas premissas o nosso envolvimento e dedicação são totalmente diferentes, porque trabalhamos motivados e com esperança de que tudo é possível. Com este pensamento abrem-se inúmeras janelas, pois iremos trabalhar nesse sentido – da pessoa com autismo atingir o seu máximo potencial.
Na maioria das vezes, quando trabalhamos com as pessoas com autismo sem acreditar que são capazes, estamos a boicotar de forma inconsciente oportunidades. Por exemplo, se a pessoa ainda não é verbal e se eu acredito que ela nunca irá falar, então não irei puxar por ela nesse sentido. Na verdade, penso que ela nunca será capaz pelo que tudo o que fizer nesse sentido será uma perda de tempo. A pessoa até pode tentar comunicar connosco, de uma forma que não seja perceptível, mas como acreditamos que é impossível, acabamos por valorizar. Isto porque, estamos limitados à nossa crença e não estamos abertos às oportunidades.
Em contrapartida, se olharmos para a pessoa com a premissa de que ainda não fala MAS poderá vir a falar, iremos usar cada oportunidade para a estimular nesse sentido. Iremos estar atentos à verbalização de qualquer som ou sílaba nova, iremos modelar, solicitar e persistir de forma entusiasmada para que consiga.
Esta nossa atitude e postura perante a nossa criança irá acabar por a influenciar também, pois iremos transmitir-lhe que acreditamos nela e confiamos nas suas capacidades. Iremos transmitir-lhe que é capaz e que sabemos que irá conseguir. Quando temos uma pessoa do nosso lado que acredita em nós, mesmo que nós próprios não acreditemos, isso dá-nos uma motivação e força maior para superar os nossos desafios. Com as pessoas com autismo passa-se exatamente da mesma forma. A sua vontade e motivação em tentar será bem maior se tiverem do seu lado alguém que é sua fã número 1 e/ou a maior claque em todas as ocasiões.
Compreender a pessoa com autismo
Cada pessoa com autismo é uma pessoa com autismo. Para sermos eficazes na nossa intervenção vamos ter que adaptar-nos às necessidades e motivações de cada pessoa. E para isso é fundamental também compreendê-la.
Na maior parte das situações não conseguimos resolver desafios porque não compreendemos a pessoa com autismo. Uma vez que compreendemos como elas podem sentir o mundo que as rodeiam, passamos a julgar menos e a empatizar mais. E isso fará com que, automaticamente, nos adaptemos às suas necessidades para ela poder evoluir positivamente.
Quando a pessoa é diagnosticada com autismo ninguém nos diz isso nem nos ensina isto. Mas a verdade é que o sucesso e desenvolvimento da pessoa com autismo estão diretamente ligados com a própria motivação e atitude do cuidador. Com isto não queremos dizer que temos de estar sempre a 100% e sempre com esta atitude entusiasta. Claro que também temos direito a ter os nossos dias maus e a passar por fases menos boas. Temos direito a dias em que acreditamos menos, ou em que a nossa motivação não está tão no topo. Mas termos consciência da importância da nossa atitude e daquilo em que acreditamos influencia o desenvolvimento da pessoa com autismo, já é meio caminho andado para a ajudar a atingir o seu máximo potencial! 😊