Como falado tantas vezes, entender um comportamento indesejável é fundamental e o primeiro passo para o resolver. No caso dos comportamentos auto-agressivos, estes não são exceção à regra.
Vamos tentar olhar para os comportamentos auto-agressivos de uma forma diferente… Experimenta bater com a tua testa contra a parede. Se reparares bem, na maior parte dos casos, as pessoas com autismo batem com a parte da frente da cabeça – com a testa – a parte mais dura do crânio. No caso de morder as mãos, a maior parte das pessoas dentro do espetro, morde a parte grande e macia da mão logo por baixo do polegar. Tenta agora morder essa parte com mais força e verás que, muito provavelmente, deixará a marca dos teus dentes, mas irás perceber que isso não provoca assim tanta dor.
Outro aspecto a ter em atenção nos comportamentos auto-agressivos, é que muitas das pessoas com autismo têm também uma sensibilidade à dor diferente da nossa, sendo que batem até ao ponto que conseguem suportar. Os seus corpos e sistemas sensoriais são bem diferentes dos nossos e o que a nós nos pode magoar, para elas poderá não ser o caso.
Principais razões para os comportamentos auto-agressivos
- “Preciso de mais controlo. Por vezes o mundo há minha volta é “esmagador” e fora do meu controlo. E quero ter mais controlo da minha vida. Bato com a minha cabeça quando me levam lá para fora, porque lá há muitos estímulos. Bato com a minha cabeça quando o meu irmão está a fazer muito barulho, porque sobrecarrega o meu cérebro. Quero menos estimulação e mais controlo da minha vida.”
- “O meu corpo precisa de “informações físicas”. Às vezes não me parece bem, então bato com a minha cabeça de forma a aliviar a pressão, ou para me ajudar a sentir o meu corpo. Ele muda todos os dias, eu não posso controlar as sensações que sinto no corpo, por isso mordo a minha mão ou bato com a cabeça para tentar ajudar o meu corpo a sentir-se melhor.”
- “Acumulação de muita energia e sendo o entusiasmo tanto, esta é a forma que encontrei para o libertar.”
- “Provocar reações nas pessoas ao meu redor.”
Compreender os comportamentos auto-agressivos
Todo o comportamento é uma forma de comunicação, seja ele desafiante, agressivo ou auto-agressivo e com ele as pessoas com autismo querem comunicar algo. Para entendermos o comportamento da pessoa temos de colocar os nossos óculos de detetives e observar, observar, observar e, se for mais fácil, fazer um registo do que observarmos para depois podermos analisar e tirar algumas conclusões.
Pode existir um padrão e caso esse padrão exista será mais fácil para ti prever e/ou antecipar o comportamento indesejado, conseguindo que este não aconteça sequer. Desta forma é importante analisares o que acontece: ANTES – DURANTE – DEPOIS.
Para tal sugerimos que faças o registo desses momentos – sabemos que não será fácil fazê-lo, mas tentem todos em equipa sempre que possível. Podes arranjar uma agenda, ou um caderno, e anotar sempre que a pessoa com autismo tem esse tipo de comportamento, incluindo os seguintes pontos:
- data e hora
- o que estava a fazer a pessoa com autismo?
- o que estavam a fazer as outras pessoas?
- com quem teve o comportamento?
- o que fez?
- duração
- como acalmou?
- o que fez depois?
Isto vai ajudar-te a compreender melhor a pessoa e vai dar-te informação importante para prevenir estas situações, te preparares para elas e até mesmo diminuir o número de vezes que acontece.
Lidar com os comportamentos auto-agressivos
Repara também na forma como reagem em casa e noutros contextos ao comportamento. É normal reagirmos física e emocionalmente nestas situações, mas pode acontecer que essa reação ainda promova mais os comportamentos, seja porque a pessoa quer provocar essa mesma reação, seja porque se ela está desafiante e nós reagimos ainda estamos a ajudar o comportamento desafiador a continuar. Então, é importante tentar manter a calma e reagir de forma neutra. Não usar movimentos bruscos e falar calmamente. É importante ajudares a pessoa a encontrar outras formas de libertar a energia que está a sentir nesses momentos. Podemos sugerir-te, então, diferentes alternativas, tais como:
- apertar uma bola com muita força
- bater numa almofada ou puff
- saltar
- receber uma massagem (perguntar à pessoa se quer que apertes as mãos ou os pés, ou que lhe dês um abraço forte, ou onde quer que lhe dês a massagem); por vezes, são questões sensoriais que iniciam estes comportamentos e a massagem ou o apertar pode ajudar.
Se nesse momento não resultar, volta a tentar novamente mais tarde, não desistas.
Sinais de alerta para evitar comportamentos auto-agressivos
Perceber os sinais de alerta e agir antes da crise também é fundamental, pelo que o registo que falámos em cima pode ajudar em muito a prevenir estas situações. É possível que a pessoa antes de ter esse comportamento, mostre alguns sinais de que não está bem. É importante estares atento/a e reconhecê-los, para agires com antecedência. Por exemplo, se a pessoa começa a fazer mais estereotipias ou a andar de um lado para o outro antes de entrar numa crise, podes logo nesse momento oferecer-lhe alternativas para se acalmar:
- uma massagem
- ver um vídeo que ela gosta
- apertar uma bola com muita força
- tentar perceber o que a pessoa quer/precisa e ajudá-la a verbalizar e oferecer-lhe rapidamente o que quer, antes da crise acontecer.
Sermos exemplo de uma comunicação eficaz é o melhor modelo que podemos oferecer às pessoas com autismo. Assim, se queremos que elas tenham comportamentos mais agradáveis, nestas situações temos de ser o melhor exemplo de amor, aceitação, para ajudá-las a sair desse registo.