Os comportamentos auto agressivos da minha criança
Como falado tantas vezes, entender o comportamento é fundamental e o primeiro passo para resolver. No caso dos comportamentos de auto-agressão, estes não são exceção à regra. Vamos tentar olhar para eles de uma forma diferente… Experimente bater com a sua testa contra a parede. Se reparar bem, na maior parte dos casos, as crianças batem com a parte da frente da cabeça – com a testa – a parte mais dura do crânio. No caso de morder as mãos, a maior parte das crianças dentro do espetro, morde a parte grande e macia da mão logo por baixo do polegar. Tente agora morder essa parte com mais força e verá que muito provavelmente deixará a marca dos seus dentes, mas irá perceber que isso não provoca assim tanta dor.
Outro aspecto a ter em atenção, é que muitas das nossas crianças têm também uma sensibilidade à dor diferente da nossa, sendo que batem até ao ponto que conseguem suportar. Os seus corpos e sistemas sensoriais são bem diferentes dos nossos e o que a nós nos pode magoar, para elas poderá não ser o caso.
Principais razões para comportamentos auto-agressivos:
- “Preciso de mais controlo. Por vezes o mundo há minha volta é “esmagador” e fora do meu controlo. E quero ter mais controlo da minha vida. Bato com a minha cabeça quando me levam lá para fora porque lá há muito estímulo. Bato com a minha cabeça quando o meu irmão está a fazer muito barulho porque sobrecarrega o meu cérebro. Quero menos estimulação e mais controlo da minha vida.”
- “O meu corpo precisa de “informações físicas”. Às vezes não me parece bem, então bato com a minha cabeça de forma aliviar a pressão ou para me ajudar a sentir o meu corpo. Ele muda todos os dias, eu não posso controlar as sensações que sinto no corpo, por isso mordo a minha mão ou bato com a cabeça para tentar ajudar o meu corpo a sentir-se melhor.”
- “Acumulação de muita energia e sendo o entusiasmo tanto, está é a forma que encontrei para o libertar.”
- Provocar reações nas pessoas ao seu redor.
Todo o comportamento é uma forma de comunicação, seja ele desafiante, agressivo ou auto-agressivo e com ele as nossas crianças querem comunicar algo. Para entendermos o comportamento da nossa criança temos de colocar os nossos óculos de detetives e observar, observar, observar e se for mais fácil, porque não fazer um registo do que observarmos para depois podermos analisar e tirar algumas conclusões.
Pode existir um padrão e caso esse padrão exista será mais fácil para si prever e/ou antecipar o comportamento indesejado, conseguindo que este não aconteça sequer. Desta forma é importante analisar o que acontece: ANTES – DURANTE – DEPOIS.
Para tal sugerimos que faça o registo desses momentos – sabemos que não será fácil fazê-lo, mas tentem todos em equipa sempre que possível. Podem arranjar uma agenda ou um caderno e anotar sempre que a vossa criança tem esse tipo de comportamento, incluindo os seguintes pontos:
- data e hora
- o que estava a fazer a sua criança?
- o que estavam a fazer as outras pessoas?
- com quem teve o comportamento?
- o que fez?
- duração
- como acalmou?
- o que fez depois?
Isto vai ajudar-vos a compreender melhor a vossa criança e vai dar-vos informação importante para prevenir estas situações, se prepararem para elas e até mesmo diminuir o nº de vezes que acontece.
Reparem também na forma como reagem em casa e noutros contextos ao comportamento. É normal reagirmos fisicamente e emocionalmente nestas situações, mas pode acontecer que essa reação ainda promova mais os comportamentos, seja porque a vossa criança quer provocar essa mesma reação, seja porque se ele está desafiante e nós reagimos ainda estamos a ajudar o comportamento desafiador a continuar. Então, é importante tentar manter a calma e reagir de forma neutra. Não usar movimentos bruscos e falar calmamente. É importante ajudar a vossa criança a encontrar outras formas de libertar a energia que está a sentir nesses momentos. Podemos sugerir-lhe então diferentes alternativas, por exemplo:
- apertar uma bola com muita força
- bater numa almofada ou puff
- saltar
- receber uma massagem (perguntar à vossa criança se quer que aperte as mãos ou os pés, ou que dê um abraço forte, ou onde quer que lhe dê a massagem); por vezes, são questões sensoriais que iniciam estes comportamentos e a massagem ou apertar pode ajudar.
Se nesse momento não resultar, voltem a tentar novamente mais tarde, não desistam.
Perceber os sinais de alerta e agir antes da crise também é fundamental e neste ponto o registo que falámos em cima pode ajudar em muito a prevenir estas situações. É possível que a vossa criança antes de ter esse comportamento, mostre alguns sinais de que não está bem. É importante estar atentos e reconhecê-los, para agir com antecedência. Por exemplo, se a vossa criança começa a fazer mais estereotipias ou a andar de um lado para o outro antes de entrar numa crise, podemos logo nesse momento oferecer-lhe alternativas para se acalmar:
- uma massagem
- ver um vídeo que ele gosta
- apertar uma bola com muita força
- tentar perceber o que a vossa criança quer/precisa e ajudá-la a verbalizar e oferecer-lhe rapidamente o que quer, antes da crise acontecer.
Sermos exemplo de uma comunicação eficaz é o melhor modelo que podemos oferecer às nossas crianças. Se queremos que as nossas crianças tenham comportamentos mais agradáveis, nestas situações temos de ser o melhor exemplo de amor, aceitação, para ajudá-los a sair desse registo.