Por vezes, fazemos por nos esforçar para dar o nosso melhor, no entanto não conseguimos ter a atitude mais correta com a pessoa com autismo. Sentimo-nos frustrados, cansados, chateados connosco próprios por não conseguir…
Afinal, como é que podemos conseguir mudar a nossa atitude?
Antes de quereres mudar a tua atitude, observa-te e observa as tuas crenças. Estás a acreditar no teu potencial? Estás a acreditar no potencial da pessoa com autismo? Que afirmações costumas dizer a ti próprio/a? E à pessoa com autismo?
Após refletires sobre as perguntas acima mencionadas, vamos ajudar-te a mudar as tuas crenças e as tuas afirmações diárias para, dessa forma, mudares a tua atitude.
Um profissional da educação uma vez afirmou que “pessoas saudáveis têm atitudes saudáveis”. Então não te esqueças de, antes de exigires a ti próprio/a uma mudança com a pessoa com autismo, sê “saudável” contigo mesmo/a para, assim, conseguires ter atitudes “saudáveis”.
Ao leres qualquer dica que iremos mencionar, não penses que estás a falhar, porque não estás! Estás a fazer o melhor que podes e tudo faz parte do processo. E acredita, estares aqui já estás a dar um grande passo: um passo de crescimento e evolução.
Assim, deixamos abaixo algumas dicas.
Não te julgues
Por vezes usamos expressões frequentes como “não consigo fazer isto”, “não estou a ser suficiente para ajudar a pessoa com autismo”, ou “o que estou a fazer não está bem feito”, e tantos outros exemplos. No entanto, com este tipo de expressões, estamos a fazer com que se inicie uma “luta” connosco próprios/as e sentimo-nos sempre desmotivados, insuficientes, incapazes, incorretos, etc., quando o objetivo é motivarmo-nos para fazer o melhor para a pessoa.
Não te julgues! Tu estás a fazer o melhor que podes e irás conseguir fazer melhor mais tarde com AMOR e ACEITAÇÃO. Por vezes, em situações de desespero, respira fundo e foca-te neste sentimento de amar, aceitar e acreditar em ti mesmo/a e na pessoa. Substitui as anteriores expressões por “eu estou a fazer o melhor que posso”, “eu consigo fazer isto”, “eu sou suficiente para a pessoa”, ou “o que estou a fazer está bem feito e irei sempre melhorar aos poucos”.
Observa a tua atitude e acredita em ti mesmo/a
Quando começamos a mudar-nos a nós próprios, tudo à nossa volta muda.
Ao acreditares em ti e no teu potencial, vais estar a transmitir confiança aos outros, neste caso, confiança à pessoa com autismo. Ou seja, quando começamos a acreditar em nós e a mudar a nossa atitude, a responsividade da pessoa também muda. Mesmo que não seja imediato, mais tarde ou mais cedo ela vai começar a aderir.
Antes de quereres mudar a pessoa com autismo, muda-te a ti próprio/a e reflete sobre ti mesmo/a. Como referido, é importante estares “saudável” para transmitires atitudes “saudáveis”. Ao mudares-te a ti próprio/a vais observar que a responsividade da pessoa com autismo vai aumentar.
Toma um tempo para refletires
Deixamos algumas perguntas para fazeres a ti mesmo/a para refletires sobre a tua atitude numa forma geral:
- Quando falam contigo, estás totalmente presente?
- Aceitas as pessoas ao teu redor com todo o teu coração, mesmo quando estão a ter dias menos bons?
- Comemoras e agradeces às pessoas da tua vida?
- Tens energia, empolgamento e entusiasmo quando fazes tarefas diárias ou comunicas com um funcionário de uma loja?
- Tratas-te com aceitação e amor, sabendo que fazes o melhor que podes, quando estás infeliz, frustrado/a ou com medo?
Se a maior parte das tuas respostas for negativa, não significa que estejas a falhar, repetimos, estás no processo e estás a fazer o melhor que podes. Mas é importante que mudes a tua atitude em coisas básicas no dia-a-dia para poderes transmitir essa atitude à pessoa com autismo.
Deves olhar para dentro e tornares-te uma pessoa mais flexível, compreensiva, relaxada, celebrativa, grata, alegre, curiosa, presente… para ti e para os outros.
Com estas mudanças o teu dia-a-dia, estarás a fazer algo muito positivo por ti, e isso vai-se refletir nos outros e na pessoa com autismo. Ela irá seguir o teu exemplo e juntos irão abrir uma porta para descobrir muita conexão e relação.
Percebe o que causa frustração e impacta a tua atitude
A frustração aparece quando há uma necessidade de demonstrar poder. É um pedido de poder de alguém que se está a sentir impotente. Mas ao escolheres a frustração, vais criar stress, ansiedade e um aumento de luta entre ti e a a pessoa com autismo. E sabemos que não é, de todo, isso que pretendes.
Para além disso, quando estamos com frustração, estamos a criar uma barreira para as pessoas com autismo interagirem connosco. Estamos a passar a mensagem que o nosso mundo é muito imprevisível, nada atraente e que nós estamos constantemente zangados. E é exatamente o contrário que queremos. Queremos “puxar” a pessoa para o nosso mundo, mas deve ser com todo o cuidado, amor e compreensão.
Por isso, relaxa. Apesar de tudo, todos temos dias menos bons, não te culpes quando não consegues estar predisposto/a sempre. Mas lembra-te, amanhã é um novo dia cheio de novas oportunidades e conquistas!
Cria afirmações positivas
É importante olhares para ti e para as tuas afirmações diárias. Estás constantemente a julgar-te? Crias pensamentos como “eu não consigo” ou “eu não sou capaz”? É importante tentares, ao máximo, mudar esse pensamento. A nossa mente está automatizada para olhar para o que está errado. No entanto, está na altura de mudares isso e criares afirmações que consigam mudar a tua atitude e para o que seja o melhor para ti.
Apresentamos alguns exemplos de afirmações positivas. Adapta-as a ti, à pessoa com autismo e ao seu ambiente. Mesmo que não consigas já hoje, amanhã, ou depois, conseguirás. Tudo leva o seu tempo. Por isso, escreve e diz para ti mesmo, em voz alta ou em pensamento, faz da maneira com que te sentires melhor:
- Eu sou um/a lutador/a
- Eu sou poderoso/a
- Eu sou capaz
- Eu consigo ajudar a pessoa com autismo
- Eu sou divertido/a
- Eu dou o maior e poderoso amor à pessoa com autismo
- Eu sou suficiente para ajudar a pessoa com autismo
- Eu sou inspirador/a
- Eu amo a pessoa com autismo tal como ela é – amo-a a chorar, a fazer birra, a gritar… pois sei que ela está a fazer o melhor que pode
- Eu estou presente
- Eu faço o melhor que posso.
Acredita na pessoa com autismo
Ao acreditarmos nas pessoas que estão à nossa volta, vai refletir-se na maneira como agimos com elas e nas oportunidades que lhes oferecemos. E isto acontece, de igual modo, com as pessoas com autismo.
Ao passares todos os dias com a pessoa, desde o seu nascimento, acabas por a conhecer melhor que ninguém e consegues prever certas reações, acertando nelas frequentemente. E, sem querer, usamos isso como prova que, aquilo que acreditamos sobre a pessoa, é uma verdade absoluta. No entanto, as pessoas com autismo crescem, todos os dias, e a oportunidade de mudar também pode acontecer.
Por isso, desafiamos a olhares para a pessoa com autismo como se fosse a primeira vez e deixes de lado todas as ideias e crenças preconcebidas que tens sobre o que ela fará ou não.
Substitui os teus pensamentos e/ou afirmações e acredita verdadeiramente na pessoa com autismo. Damos alguns exemplos:
- “a pessoa com autismo não vai fazer/querer” → “a pessoa com autismo ainda não faz/quer, mas irá fazer/querer”;
- “a pessoa não gosta” → “a pessoa ainda não gosta, mas irá gostar”
- “a pessoa não consegue” → “a pessoa ainda não consegue, mas irá conseguir”
Apesar de, em momentos passados a pessoa com autismo não tenha feito/querido/conseguido, não quer dizer que nunca faça/queira/consiga. Transforma o teu pensamento e acredita num futuro mais positivo.
Olha para as situações de forma positiva e descontraída
Sabemos que por vezes é difícil e que até podem haver dias impossíveis para isso (como já referimos, nós fazemos o melhor que podemos), mas ao enfrentares os desafios, frequentemente, de uma forma positiva e animada, isso vai mudar a tua percepção dos acontecimentos e valorizar tantas outras coisas que, por vezes, são esquecidas.
Então, concentra-te no que está a correr bem: o dia passa, com 24 horas, mas se nos acontecer algo negativo, é nisso que normalmente nos focamos e fazemos o maior drama. Ignora mais vezes os aspetos negativos e observa, principalmente, o que está a correr bem “de manhã a minha criança olhou-me nos olhos”, “hoje está um dia de sol maravilhoso”, ou “hoje consegui cumprir com todas as tarefas definidas”, ao invés de te focares numa birra ou crise da pessoa com autismo como um dia mau, ou noutro momento desafiante.
Agradece
Diz “obrigado” mais vezes, mesmo em situações pequenas. “Obrigado pelas aprendizagens e lições que a pessoa com autismo me dá”, “Obrigado pelos alimentos, pelo conforto da minha casa, pela minha segurança e saúde”, “Obrigado pelo amor que dou e recebo da minha família”. A gratidão traz-nos, afinal, um sentimento magnífico de alívio, amor e felicidade.
Descontrai
Procura humor nas situações. Mesmo que as coisas se desenrolem de uma maneira totalmente contrária à planeada, ri-te da situação, descontrai. Focarmo-nos no que poderíamos ter feito e no que poderia ter acontecido, só nos traz sentimentos de frustração e stress. Então, sorri, ri, faz jogos com os “desastres” acontecidos, diz brincadeiras, diverte-te!
Vai em frente e sorri!
Sorrir sem vontade parece impossível e sem qualquer motivo. Mas faz este jogo mental: recorda-te da última gargalhada, da maior conquista da pessoa com autismo, da última brincadeira de cócegas juntos, no próprio sorriso da pessoa, … Experimenta! E sorri 🙂