Antes de percebermos a importância que tem a comunicação não-verbal nas pessoas com autismo, vamos perceber, primeiramente, se sabemos exatamente o que é a comunicação não-verbal.
A comunicação não-verbal é a comunicação que realizamos com o nosso corpo. É quando nos comunicamos sem usar a palavra falada, ou seja, são todos os gestos, expressões, tons de voz, sons, comportamentos, posturas e contactos visuais. Este tipo de comunicação transmite mensagens à pessoa que os recebe e que realizará uma leitura do outro através dessas comunicações não-verbais. Muitas vezes, apenas ao olhar, apontar, realizar um som ou expressão, a outra pessoa irá perceber o que estamos a querer dizer, mesmo sem usar palavras.
Importância da comunicação não-verbal
Usamos várias vezes a comunicação não-verbal e nem nos apercebemos porque pertence à nossa maneira de ser e é um hábito comum. Mas, nas pessoas com autismo, isso pode ser menos fácil de realizar e interpretar.
Por isso, para além da comunicação verbal, é muito importante incentivar a utilização da comunicação não-verbal. Sendo a pessoa verbal ou não, é relevante que ela transmita os seus sentimentos e pedidos através da comunicação não-verbal para enriquecer a sua comunicação consigo e com os outros à sua volta.
Numa pessoa com autismo não-verbal, a utilização da comunicação não-verbal com gestos, sons ou outros, pode ser a “ponte” para a comunicação verbal. Mesmo para as pessoas verbais, a utilização da comunicação não-verbal irá enriquecer muito mais a sua interação e socialização.
Exemplos de comunicação não-verbal
Começa com coisas simples. As comunicações que podes incentivar a pessoa a realizar são, por exemplo:
- Apontar → Pedido
- Acenar → Chamamento
- Bater palmas → Felicidade / Celebração
- Abanar a cabeça movimentando o “não” → Negação
- Abanar a cabeça movimentando o “sim” → Aceitação
- Reagir a músicas a dançar → Felicidade / Diversão
- “Mais cinco” (“high fives”) → Felicidade / Celebração
Como incentivar a usar a comunicação não-verbal
1. Sê o exemplo!
APONTA, dizendo “é isto que queres?” – quando te aperceberes que a pessoa quer algo e, de seguida, dás o objeto que ela pretende (podes dizer também o nome do objeto para incentivar à verbalização).
APONTA para um objeto ou brinquedo que a pessoa adora. Por exemplo, “olha, queres brincar com o teu Mickey?” ao mesmo tempo que apontas, e depois dá-lhe.
APONTA para diferentes partes do corpo e depois faz-lhe muitas cócegas após apontares.
REFORÇA o abanar a cabeça com as palavras “sim” e “não”.
UTILIZA as palmas com emoção e utiliza o “mais cinco” com a pessoa, ao celebrares.
USA os gestos de acenar, ao dizeres “olá” ou “adeus”.
EXAGERA nos movimentos e expressões para poderes chamar a atenção da pessoa e motivá-la, mais tarde, a utilizar também.
UTILIZA antecipadamente estas estratégias com um familiar, crianças ou pessoas que morem contigo, para a pessoa com autismo vos possa observar e, por sua vez, começar a ficar familiarizada com essas comunicações não-verbais.
CELEBRA quando a pessoa apontar sozinha ou realizar um pequeno som ou utilizar a palavra e vai rapidamente buscar o que ela pretende. Assim, demonstrarás que a comunicação é a chave para ela conseguir o que quer.
Ao demonstrares que usar gestos é bom e é também uma chave para a comunicação, estás a inspirar a pessoa com autismo a interagir contigo e com o mundo.
2. Faz brincadeiras criativas
Sê criativo/a ao tentares motivar a pessoa com autismo. Deixamos aqui um exemplo super divertido que poderás colocar em prática para incentivares a pessoa a apontar. Vamos, então, passar a explicá-lo detalhadamente.
Cria um braço gigante em cartão e começa a utilizá-lo da seguinte forma:
PASSO 1
→ Exemplo 1: Pessoa com autismo olha para brinquedo → Usas o braço gigante para apontar para o brinquedo e perguntas: “queres o brinquedo?” → Dás o brinquedo pretendido à pessoa com autismo.
→ Exemplo 2: Pessoa com autismo olha e diz: “brinquedo” → Usas o braço gigante para apontar para o brinquedo e reforças a comunicação verbal da pessoa: “Ah sim, queres o brinquedo?” → Dás o brinquedo pretendido à pessoa.
PASSO 2
→ Pessoa com autismo olha para o brinquedo → Ofereces o braço gigante à pessoa e dizes: “eu dou-te o que queres, é só apontares!” → Pessoa utiliza o braço gigante e vais rapidamente buscar o pretendido da pessoa.
PASSO 3
→ Mostras à pessoa como se aponta com o seu braço, ao lado do braço gigante → Incentivas a pessoa a imitar o braço gigante com o seu próprio braço.
PASSO 4
→ Pessoa olha / pede o brinquedo → Utilizas o braço gigante ao mesmo tempo que utilizas o teu próprio braço a apontar para o brinquedo → Incentivas a pessoa a utilizar o seu braço para apontar também “aponta com o teu braço, eu dou-te o que queres!” → Pessoa aponta com o seu braço e vais buscar rapidamente o pretendido da pessoa.
Podes também utilizar o braço gigante e apontar para diferentes partes do corpo da pessoa e depois fazer cócegas nos sítios apontados. Vão criar uma brincadeira muito divertida!
Este é apenas um exemplo de como podemos motivar a pessoa com autismo a apontar e a utilizar (também) a comunicação não-verbal. No entanto, podes fazer o mesmo com expressões faciais e outros gestos como o acenar, bater palmas, “mais cinco”… Ao exagerares e seres criativo para demostrar como se usa a comunicação não-verbal, estarás a captar, mais facilmente, a atenção da pessoa.
3. Investe na conexão
Todos os teus esforços são sempre válidos, seja para o aprofundamento da comunicação verbal da pessoa, seja para a não-verbal. Contudo lembra-te, é importante investires também na conexão com a pessoa, seja com o “juntar-se”, seja com brincadeiras livres ou cócegas.
4. Acredita!
A comunicação não-verbal é muito importante para o desenvolvimento da interação da pessoa com autismo contigo e com os outros. Por vezes, estamos tão focados a tentar que a pessoa fale que nos esquecemos e ignoramos a comunicação não-verbal, que também é válida e pode ser uma ferramenta, mais tarde, para a incentivar a utilizar a verbalização.
Mais tarde, lembra-te que a utilização dos dois aliados (comunicação verbal com a não-verbal) será o ideal para que a pessoa consiga expressar-se e socializar com todos.