A utilização da palavra “odeio”, pode ocorrer por a pessoa com autismo (principalmente se é uma criança/jovem) se ter apercebido que é uma palavra forte e à qual as pessoas, normalmente, reagem. Pode ter acontecido na escola, por exemplo, ter referido que “odiava algo” e ter sido chamada à atenção. Assim, é uma palavra que ela usa quando está chateada/frustrada e quer obter uma reação das outras pessoas. Não quer dizer que odeie realmente.
Por outro lado, é interessante refletirmos também sobre o quanto essa palavra nos incomoda e preocupa. Muitas vezes, é algo muito mais na nossa mente, do que na mente da pessoa com autismo.
Distinguir a pessoa do seu comportamento
Parece-nos muito importante fazer a seguinte distinção, principalmente quando a pessoa utiliza a palavra “odeio” em relação a outras pessoas: “Continuas a gostar da pessoa, só não gostaste do que a pessoa fez”, por exemplo. E uma das formas de o fazer é através da modelagem também. É bastante comum cairmos no erro de nos focarmos na pessoa e não na ação. Ou seja, em vez de dizermos que o comportamento é errado, dizemos que “a criança é feia“, que “a pessoa é má“, por exemplo. Estamos a promover esse tipo de expressões. No entanto, podes modelar nos momentos em que a pessoa com autismo utiliza essa expressão, ajudando a encontrar outras formas de se expressar.
Por exemplo, a pessoa com autismo diz “Odeio o pai e a mãe”, podes dizer “Ok, já percebi que não gostaste do que nós fizemos, é isso? Tudo bem, nós entendemos que é difícil de aceitar e que ficaste chateado/a”. Assim, estás a ajudá-la a dar um significado ao que sente e a contextualizar, com vocabulário mais adequado, mas sem invalidares o que ele possa estar a sentir.
Além disso, lembra-te de não levares o que a pessoa diz como algo pessoal – ela está a tentar expressar-se, não a atacar-te.