Comportamentos desafiantes I

20 de Março de 2023 – vencerautismo

Partilhamos contigo 5 dicas para lidares com comportamentos desafiantes:

Dica 1 – Faz um registo dos momentos desafiantes

Compreendemos que nem sempre é fácil fazê-lo, mas tenta colocar em prática, em conjunto com todas as pessoas que estão em contacto com a pessoa com autismo. Podes arranjar uma agenda ou um caderno e anotar sempre que a pessoa com autismo tem comportamentos mais desafiantes, incluindo os seguintes pontos:

  • data e hora
  • o que estava a fazer a pessoa com autismo?
  • o que estavam a fazer as outras pessoas?
  • com quem teve um comportamento desafiante?
  • o que fez?
  • duração
  • como acalmou?
  • o que fez depois?

Isto vai ajudar-te a compreender melhor a pessoa com autismo e vai dar-te informação para prevenires estas situações, te preparares para elas e até mesmo diminuir o número de vezes que acontecem.

Dica 2 – Repara como as pessoas reagem a esses comportamento nos diferentes contextos

É normal reagirmos fisica e emocionalmente nestas situações. Contudo, pode acontecer que essa reação ainda promova mais os comportamentos desafiantes. Seja porque a pessoa com autismo quer provocar. Seja porque ela está desafiante e nós reagimos de uma forma que reforça o comportamento dela. Então, é importante tentar manter a calma e reagir de forma neutra. Não usar movimentos bruscos e falar calmamente.

Analisa se nesses momentos alguém dá à pessoa com autismo alguma coisa que ela possa querer só porque ela teve um comportamento desafiante. Algo que de outra forma não lhe daria. Se sim, procura mudar isso. Se a pessoa com autismo acreditar que ter comportamentos desafiantes é a melhor forma de conseguir as coisas, será a estratégia que ela vai utilizar.

Mesmo que o que quer seja só atenção, carinho, que as pessoas parem de fazer algo ou que lhe dêem algo. Nestas situações, procura perceber o que quer e explicar que para a próxima pode dizê-lo e terás todo o gosto em ajudar (e celebra se ela o fizer ou apenas tentar fazer). Por exemplo, percebes a pessoa com autismo tem um comportamento desafiante, porque quer que páres o que está a fazer no momento para lhe dares atenção. Então, é importante, por vezes, parares o que estás a fazer e dar-lhe esse pequeno momento de atenção, sem que tenha um comportamento desafiante. Nem que seja só perguntares como está. Podes dizer algo do género: “Está tudo bem? Se precisares de ajuda podes-me vir pedir “ajuda”, e eu dou, porque eu adoro ajudar-te”.

No momento em que ela tem o comportamento desafiante não lhe dê grande atenção, mas sim mostra-lhe formas mais adequadas de comunicar. Mostra que se usar as palavras ou uma comunicação mais gentil (mesmo que seja não verbal como puxar pelo braço, apontar, etc), consegue o que quer de forma mais rápida e divertida.

Dica 3: Alternativas para o comportamento desafiante

Se em alguns momentos, a pessoa com autismo, com frustração, tem um comportamento desafiante diretamente contigo, é importante dares-lhe alternativas para extravasar a sua energia. Podes explicar calmamente: “Já percebi que algo te está a incomodar, mas ao morderes vais-me magoar, por isso não posso deixar que o faças. Posso ajudar-te a encontrar outra solução. Por exemplo, podes morder esta bola de borracha com muita força, queres experimentar? …”

É importante ajudar a pessoa com autismo a encontrar outras formas de libertar a energia que está a sentir nesses momentos. Podes sugerir-lhe então diferentes alternativas, por exemplo:

  • apertar uma bola com muita força;
  • bater numa almofada ou puff
  • morder objetos que dêem para esse efeito (até pode ser mordedores ou objetos de borracha que não haja problema de colocar na boca e morder)
  • puxar uma corda / cabelos de uma boneca
  • saltar
  • receber uma massagem (pergunta se quer que apertes as/os mãos/pés, ou que dês um abraço forte, ou onde quer que lhe dês a massagem); por vezes, são questões sensoriais que iniciam estes comportamentos desafiantes e a massagem ou apertar pode ajudar.

Se nesse momento não resultar, volta a tentar novamente mais tarde, não desistas. É muito importante que a pessoa com autismo perceba que os comportamentos desafiantes não são a solução.

Dica 4: Perceber os sinais de alerta e agir antes da crise.

É possível que a pessoa com autismo, antes de ter um comportamento desafiante, mostre alguns sinais de que não está bem. Por isso, procura estar atento/a e reconhecê-los (o registo que sugerimos anteriormente pode ajudar), para agires com antecedência. Podes logo nesse momento oferecer-lhe alternativas para se acalmar:

  • uma massagem
  • ver um vídeo que gosta
  • apertar uma bola com muita força
  • tentar perceber o que quer e ajudá-la a verbalizar e oferecer-lhe rapidamente o que quer, antes do comportamento desafiante

Dica 5: Previsibilidade

Para ajudar com a previsibilidade podes fazer um horário com atividades. Não tem que ser nada muito complexo, adapta de forma a fazer sentido no vosso dia-a-dia, claro. Por ser algo como por exemplo:

Manhã:

  • Cumprimentar o grupo (foto do grupo todo)
  • Atividade livre (ter fotos dos jogos / atividades que procura mais)
  • Hora da pintura (imagem de lápis / canetas)
  • Lavar as mãos (foto da pessoa com autismo a lavar as mãos)
  • Almoço no refeitório – podes colocar fotografias das pessoas ao lado de quem a pessoa com autismo se vai sentar (se fizer sentido)

Tarde:

  • Atividade livre
  • Lanche (foto da pessoa com autismo a lanchar)
  • Hora da Ginástica (com foto respetiva)
  • Até amanhã (foto da pessoa com autismo a dizer adeus ou com o cuidador a ir embora)
  • Acrescentar imagens, normalmente, resulta bem e ter um horário onde estão estruturadas as atividades e o que vai acontecer, dá muitas vezes segurança, conforto e controlo às pessoas com autismo.

Inicialmente, poderá achar estranho, porque não está habituada. Podes até ver com ela atividades que gosta de fazer para incluir no horário. De preferência, ter momentos de interação contigo, sem exigir muito dela, apenas que sejam momentos em que ela se diverte para que perceba que fazer atividades contigo é divertido e prazeroso.

Por último…

Sermos exemplo de uma comunicação eficaz é o melhor que podemos oferecer. Se queremos que as pessoas com autismo tenham comportamentos mais agradáveis, nestas situações temos de ser o melhor exemplo de amor, aceitação, para ajudá-las a sair desse registo. Nesse sentido, nestes momentos tenta não gritar, nem entrar em conflito direto com a pessoa com autismo por ter um comportamento desafiante – não queremos alimentar o comportamento, antes pelo contrário, queremos ajudá-la a acalmar-se.

É igualmente importante não invalidar a perspectiva ou as emoções da pessoa com autismo. Bem como, não dizer como se deve sentir. Como por exemplo “não fiques com raiva” ou “pára de ficar tão chateada!”. Quando as pessoas têm a oportunidade de ter as suas emoções ouvidas e compreendidas, elas sentem-se mais calmas e não precisam mais demonstrar a sua angústia e gritar mais alto ou tentar bater.

Sabemos que na prática nem sempre é fácil manter a calma, mas pode fazer toda a diferença.

Podes aprender mais sobre este tema através das nossas Masterclasses:

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