Dormir sozinho/a

22 de Março de 2023 – vencerautismo

Conseguir que as pessoas com autismo consigam dormir sozinhas é um dos grandes desafios dos seus cuidadores, principalmente quando ainda são pequenas.

Dar previsibilidade

É fundamental dar previsibilidade à pessoa com autismo da mudança que se vai querer introduzir na sua rotina de sono. Dar sinais atempados à pessoa com autismo do que vai acontecer pode ajudar imenso na redução de comportamentos mais desafiantes.

Quando a pessoa com autismo está habituada a dormir na companhia de um dos cuidadores, ela sabe que quando chega a hora de dormir, a mãe vai com ela e faz-lhe companhia durante toda a noite. Pelo que ela poderá reagir mal se, de um dia para o outro, esta rotina for quebrada, sem qualquer aviso ou explicação prévios.

Define um dia

Por isso, é importante que comeces por definir um dia a partir do qual vão ser introduzidas as mudanças de rotina. E podes até envolver a pessoa nesse processo, decidindo o dia em conjunto. Assim, com tempo, podes começar prepará-la nesse sentido, explicando-lhe o que vai acontecer. Dizer que vai começar a dormir sozinha, por exemplo, porque já está muito crescida, que vai ficar com mais espaço na cama para dormir, vai descansar melhor, a mãe tem saudades de dormir na cama dela, etc. Podes dar a justificação que lhe parecer melhor e mais adequada.

Além disso, podes também criar um calendário, onde vão assinalando o passar dos dias e vendo os dias que faltam. Todos os dias (uns dias/ semana antes), com a pessoa com autismo, vais ver o calendário e riscar o dia que passou, vendo quantos dias faltam ainda. Estas pistas visuais ajudam algumas pessoas com autismo a processar novas informações mais facilmente.

Atenção à atitude

A parte da nossa expressão facial e corporal também é importante. Queremos, acima de tudo, que seja coerente com o que dizemos. Se queremos mostrar à pessoa com autismo como este processo pode ser divertido, se queremos que acredite no que comunicamos, convém que toda a nossa expressão facial e corporal acompanhe. É importante que te sintas e mostres entusiasmado/a enquanto falas com a pessoa com autismo sobre esta mudança. Deixa os teus olhos brilharem e retira qualquer expressão de receio.

Define uma rotina

Chegado o “grande dia”, é importante que esteja definida uma rotina de sono para a pessoa com autismo. Pode ser a que já tem atualmente ou podem criar uma nova que faça mais sentido. É importante que essa rotina ofereça uma sensação de controlo, um ambiente seguro e previsível. Além disso, deve incluir horas de deitar regulares e consistentes, e também muitos avisos com antecedência. Assim, cria-se o sentido de controlo e previsibilidade, para a pessoa com autismo ficar mais relaxada e, consequentemente, mais tranquila para quando chegar a hora do deitar.

Aconselhamos que definas uma hora para a pessoa com autismo ir dormir e uma hora para acordar, mantendo-te firme e persistente nessa ideia. Podes começar a dar previsibilidade uma hora antes da pessoa com autismo ir dormir, e ir avisando o tempo que falta (30 minutos, 15 minutos, 5 minutos), dizendo-lhe que está quase na hora de ir descansar.

Esta rotina de sono deverá, igualmente, considerar os seguintes aspectos:

Diminuir estímulos a partir das 19h00

Principalmente a televisão, o computador e/ou o tablet, pois são aparelhos muito estimulantes para as pessoas com autismo. Utiliza luzes mais fracas ou mais amarelas/laranja e evita a luz branca. Começa a diminuir o ritmo e intensidade das brincadeiras/atividades da pessoa com autismo;

Alimentação

Evita açúcares e/ou comidas pesadas. E diminui também a ingestão de líquidos (assim, não terá tanta necessidade de acordar para ir à casa de banho a meio da noite);

Banho

Muitas vezes o banho funciona como uma atividade relaxante. Se for o caso, poderás deixá-lo para o momento antes de deitar.

Preparar o quarto para dormir

Manter a luz fraca, temperatura agradável, sem barulhos e roupa de cama adequada à temperatura.

Momento relaxante

Ler uma história ou conversar um pouco, já na cama, num tom de voz baixo e calmo. Fazer uma massagem nas costas, deixar uma música relaxante a tocar baixinho, entre outras opções. Poderás dar a escolher à pessoa com autismo o que quer antes de a deixares ficar no quarto.

Arranjar um companheiro / objeto de segurança

Também podes sugerir que a pessoa com autismo arranje um novo “companheiro” ou um objeto que dê segurança para dormir à noite, sozinha. Pode ser um peluche, uma almofada normal, uma almofada comprida em forma de cilindro, ou um outro objeto que a pessoa escolha. Podes fazer disso um evento e combinar um dia para irem às compras e escolher esse “companheiro”. Imagina, se for um peluche/almofada, podes até vesti-lo com uma camisola/t-shirt tua (ou da pessoa com quem costuma dormir). Sugerimos até que durmas com a camisola uma a duas noites para ficar com o teu cheiro, para depois poderes colocar no peluche, ou na almofada.

E se acordar a meio da noite…

Se a pessoa com autismo acordar a meio da noite, a chamar por ti, ou até levantando-se da cama, deves evitar acender luzes. E, com tranquilidade, tentar encaminhá-la novamente para a cama. Caso necessite, claro que a pessoa pode ir fazer xixi, ou beber um copo de água, se ajudar. Poderás mesmo dizer: “Vamos tentar dormir mais um bocado? Assim amanhã vamos estar mais bem-dispostos e com mais energia para trabalhar e brincar! Deita-te um bocadinho e vais ver que daqui a pouco já estás a dormir novamente e depois a/o mãe/pai vem acordar-te, ok? Até já!”.

Celebra pequenos passos

Salientamos ainda a importância de, sobretudo na fase inicial, sempre que a pessoa com autismo conseguir ficar na cama sozinho, mesmo que não durma a noite toda sozinha, mas apenas uma horas, celebrares o facto de isso ter acontecido. Sabemos que parece algo básico e sem sentido, mas é muito importante. É uma forma de se reconhecer as vitórias conquistadas e o esforço que a pessoa com autismo também vai fazendo. Deves agradecer por ter ficado sozinha e celebrar, comentários simples como “Muito obrigada por teres ficado sozinha, sei que não é fácil, mas conseguiste!!! Parabéns! A mãe e o pai estão mesmo muito contentes.”. Desta forma, também a pessoa com autismo vai perceber que o que está a fazer é correto e que deixa os cuidadores felizes, motivando-a a querer continuar com o mesmo comportamento.

Nos momentos mais difíceis, pode ajudar-te se pensares “eu sei que isto é o melhor para o meu filho/a e quanto mais consistente for na minha resposta e atitude, mais oportunidades terei de lhe passar a mensagem de que é importante dormir sozinho/a”. 

Podes aprender mais sobre este tema através das nossas Masterclasses:

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