O início da adolescência é variável. De uma maneira geral, inicia-se pelos 12/13 anos. No entanto, alguns jovens começam a dar sinais mais cedo (10 anos) e outros mais tarde (17 anos), e não há nada de errado nisso. Mas, saber, aproximadamente, em que fase se inicia ajuda-nos a perceber quando será tempo de começar a abordar algumas temáticas, não deixando para o último momento.
Há temas (por exemplo, as emoções) que podemos e devemos trabalhar desde sempre. No entanto, se calhar questões mais específicas (como a descoberta do corpo ou a menstruação), podemos começar a abordar a partir dos 8/10 anos, prevenindo surpresas difíceis de gerir.
Apesar de todas as mudanças que ocorrem a nível físico, nesta fase, elas nem sempre são acompanhadas de uma mudança/desenvolvimento igual a nível mental, o que pode dificultar o processamento de tudo o que está a acontecer. Ou seja, por exemplo, apesar de o/a jovem já ter um corpo semelhante ao de um adulto, ainda não o é e há questões de maturidade e de personalidade que ainda se estão a desenvolver.
Para tornar esta fase mais tranquila, podemos:
Dar espaço:
O afastamento por parte da pessoa com autismo nesta fase é natural e, até certo ponto, saudável. É nesta fase que as crianças começam a fazer a transição para a fase adulta, definindo a sua personalidade. Consequentemente, podem afastar-se cada vez mais (principalmente nesta fase), daquilo que são as ideias e valores dos pais. Esta é, muitas das vezes, causa de conflitos e a razão para os pais sentirem que os filhos se tornaram rebeldes e desobedientes. À medida que os jovens se afastam dos pais, aproximam-se, regra geral, mais dos seus pares e procuram a sua validação. O que pode levar, em alguns casos, a ceder a pressão de grupo para se envolver em determinados tipos de comportamentos (por exemplo, experimentar fumar). No entanto, no autismo, nem sempre existe essa aproximação aos pares, pelo que podem sentir falta dessa parte.
Por outro lado, há uma necessidade de privacidade, para explorar e conhecer o próprio corpo que é positivo acontecer de forma autónoma (ainda que haja partilha de dúvidas e conversas com os cuidadores).
Portanto será importante dar espaço, mas ao mesmo tempo estar atento a alguns sinais que podem ser indicativos de que algo não está bem.
Estar atentos a sinais:
Alguns sinais a ter em atenção:
- Afastarem-se /isolarem-se em demasia
- Mudanças de humor/instabilidade recorrente
- Comportamentos agressivos / desafiantes (muito relacionado com necessidade de trabalho a nível das emoções)
Criar espaços de diálogo:
É essencial ao longo de todo o desenvolvimento da pessoa com autismo criar um espaço aberto de diálogo, sem julgamentos. Um espaço onde a pessoa pode partilhar as suas preocupações, dúvidas e conquistas é muito importante. Isso permite-nos adaptar as estratégias e os temas a abordar à realidade da pessoa.
Assim, mostramos que pode conversar connosco sobre tudo e que terá apoio na procura de uma resposta. Mesmo que não saibamos, vamos ajudar a descobrir soluções.
Criando este espaço, mostramos que não há necessidade de sentir medo, vergonha ou culpa ao falar sobre determinados assuntos. Ao invés, se nos afastarmos e evitarmos o assunto, estamos a mostrar que não estamos disponíveis, que é um tema que não pode falar connosco. Mas a verdade é que as dúvidas continuarão lá. Em vez de recorrer a nós, vai recorrer a outras pessoas e/ou à internet, e não sabemos se terá acesso à informação mais adequada.
O que normalmente acontece:
Evento/Comportamento > Reação forte/negativa > Associação da Reação ao Evento/Comportamento > Vergonha/Medo > Menos probabilidade de falar, pedir ajuda, fazer perguntas
O que queremos que aconteça:
Conversas positivas, proativas e frequentes > Evento/Comportamento > Porta para Comunicação Aberta > Cuidadores preparados para dar apoio e recursos > Aumento de informação, conhecimento e comportamentos ajustados
Antes de prepararmos a criança/jovem para esta fase, devemos fazer o nosso trabalho de casa e prepararmo-nos a nós também. Sabendo que, obviamente, nunca estaremos 100% preparados para tudo. Mas ajuda se tivermos uma base de conhecimento e de apoio, que nos permita lidar com as situações com maior tranquilidade.
Muitas vezes nós próprios sentimo-nos desconfortáveis com o tema. E não vamos ficar mais confortáveis se o evitarmos ou ignorarmos. Pelo contrário, quanto mais evitamos, mais nos custará quando o momento chegar.
Já sabemos que a nossa atitude influencia, portanto, para estarmos tranquilos a lidar com esta fase que pode (ou não) ser um desafio, temos de nos preparar. Estando preparados podemos:
- Começar a abordar o tema com calma e tranquilidade
- Estar atentos a sinais