Por vezes, enquanto cuidadores, exigimos muito de nós. E quanto mais exigimos, mais frustrados nos sentimos e menos paciência temos. Contudo, para estarmos em harmonia e interagirmos com as pessoas com autismo, precisamos de paciência. Precisamos de estar, também nós, disponíveis para o que a pessoa nos traz e não apenas focados numa agenda e/ou lista de atividades a cumprir.
Por diferentes razões, ao longo de um ano (e dos anos), vamos passando por diferentes fases. Fases em que temos mais tempo e disponibilidade. Fases em que temos menos tempo e capacidade de dar atenção à pessoa com autismo. O primeiro passo para conseguirmos gerir esses momentos é aceitá-los e perceber que não estamos a falhar. Não somos maus cuidadores por causa disso – estamos a fazer o melhor que conseguimos.
Como fazer?
Se estás numa fase de muito trabalho, em que stressas pelo muito trabalho que tens para fazer e pelo tempo que não consegues estar a trabalhar com a pessoa com autismo… respira. Define que durante X tempo, não vai ser possível trabalhar com a pessoa da forma ideal que gostarias. Definir e aceitar isto, vai dar-te mais tranquilidade, acredita.
No entanto, se for possível, durante a semana, dedica 15 minutos do teu dia para lhe dares atenção total. Sem teres um objetivo específico, permite-te apenas divertires-te com a pessoa com autismo e desligar de tudo o resto (trabalho, preocupações, etc). É positivo para ambos.
Se ao fim de semana conseguires ter um pouco mais de tempo, dedica então 1 hora do teu dia para fazeres atividades com a pessoa com autismo. Nessa hora, foca-te na brincadeira, mas com um objetivo em mente. Por exemplo: hoje vou-me focar na comunicação verbal e vou tentar que ele/a diga “có” para cócegas; hoje vou tentar esticar o tempo de atenção conjunta até aos 5 minutos, etc.
Além disso, em momentos de maior ritmo de trabalho, podes simplesmente aproveitar as rotinas diárias para a interação – a hora das refeições, o banho, etc – e fazer desses momentos, um período de pausa do trabalho e de ligação com a pessoa com autismo.
A pessoa com autismo precisa de cuidadores descansados e tranquilos quando estão em interação e brincadeira com ela. Claro que não é possível estar sempre assim. Mas também é preciso aprendermos a pesar na balança o que vale mais nesses momentos. Devo fazer uma atividade quase por obrigação, para sentir que não estou a falhar? Ou faz sentido permitir que a pessoa esteja um pouco mais sozinha, enquanto termino este trabalho e amanhã com mais calma, procurar brincar com ela? Quais são os ganhos e as perdas com cada uma destas opções?
Não há mal nenhum em dizer “hoje não dediquei tempo à pessoa com autismo” ou “hoje não vai ser possível fazer atividades” – sabendo que isso, naquele dia, pode ser o melhor que fazemos para a pessoa com autismo e para nós próprios.