Acontece, por vezes, que a pessoa com autismo sabe comunicar, tem até um vocabulário bastante extenso, no entanto, tem dificuldade em iniciar diálogos. Para trabalhar esta área partilhamos algumas ideias.
Em primeiro lugar, é importante analisares qual é a razão para esta dificuldade. Por exemplo, a pessoa:
- tem dificuldade em iniciar conversas porque não sabe como pode fazê-lo
- tem dificuldade em iniciar conversas porque não tem interesse em falar sobre determinado tema ou com determinada pessoa
- dificuldade em iniciar conversas porque estão muitos estímulos à sua volta
- ser naturalmente menos conversadora.
Quando tem dificuldade em iniciar conversas porque não sabe como pode fazê-lo:
- Modelar: mostra-lhe como é que se inicia diálogos, dando o exemplo de diferentes formas. Exemplos – “Bom dia (nome da pessoa)!”, “A que te apetece brincar agora?”, “Adoro os filmes com o ator X, e tu também gostas?”, “Que desenho tão giro, que cor estás a usar?”, etc. Todas as formas são válidas, isto são apenas exemplos. E se a pessoa não sabe como iniciar conversas, é importante ofereceres-lhe a maior variedade de exemplos possível, para que possa compreender como é que esta fase de interação se processa e possa encontrar formas de iniciar a conversa com as quais se sente confortável;
- Fazer roleplays: procura perceber em que situações é que a pessoa manifesta mais dificuldade e faz teatros e treinos com ela. Por exemplo, faz de conta que és um amigo na escola e o desafio é a pessoa com autismo ir ter contigo e iniciar uma conversa. Mesmo que não o faça da melhor maneira no início, sê responsivo/a e alimenta a conversa, para motivar a continuar. Pode ser importante, no início, seres tu a iniciar a conversa como se fosses o/a amigo/a, para dares o exemplo.
Para a dificuldade em iniciar conversas, porque não tem interesse em falar sobre determinado tema ou com determinada pessoa:
- Não forçar: nunca ganhamos nada em forçar os outros, mas podemos aumentar ainda mais a sua dificuldade ou rejeição;
- Não adivinhar pedidos ou necessidades: mesmo que saibas o que a pessoa quer, é essencial dares-lhe a oportunidade de o verbalizar. Assim, estarás a criar uma oportunidade para ser a pessoa com autismo a iniciar um diálogo, mesmo que seja na base de um pedido. Sabes que a pessoa quer mais folhas, mas ela ainda não verbalizou? Aguardas que ela o faça ou tente fazer. Sabes que ela quer a bola, mas ela não te disse? Da mesma forma, aguardas a informação por parte da pessoa. E quando ela disser algo, respondes prontamente.
- Usar as motivações da pessoa: fala dos temas que a pessoa mais gosta, nem que para isso tenhas que ir pesquisar um pouco antes. Se mostrares interesse nos temas que mais gosta, se a pessoa perceber que contigo tem a oportunidade de falar sobre os seus temas preferidos, estará mais motivada para iniciar uma conversa.
Para a dificuldade em iniciar conversas porque estão muitos estímulos à sua volta:
- Compreender, respeitar e não forçar: se estão demasiados estímulos, é um desafio muito grande para a pessoa e se insistires podes estar a abrir caminho para uma crise;
- Ajustar o ambiente: se possível, diminui os estímulos que estão a incomodar a pessoa e/ou ajuda-a a encontrar um espaço mais tranquilo, onde se possa autorregular e onde, eventualmente, poderá iniciar uma conversa.
Quando a pessoa é naturalmente menos conversadora:
- Respeitar: há imensas pessoas sem autismo que também raramente iniciam conversas ou se envolvem muito em diálogos com os outros, simplesmente porque são menos comunicativas/conversadoras e, muitas vezes, preferem ouvir. Não há mal nenhum nisso e pode ser simplesmente um traço de personalidade que deve ser respeitado. Assim, respeita o tempo e espaço da pessoa e agradece e celebra quando inicia uma conversa contigo e/ou mantém uma conversa – e desfruta desses momentos!
Para todas as situações, lembra-te de:
- Permitir silêncios: se estiveres sempre a preencher os momentos de silêncio e fores tu a iniciar conversas, não estás a deixar espaço para a pessoa com autismo o tentar fazer.
- Expectativas: por vezes, também criamos expectativas do que é iniciar conversas, mas se, por exemplo, a pessoa toma a iniciativa de te chamar para uma brincadeira ou de te mostrar algo que fez, então ela está a iniciar uma conversa também. Está pelo menos a tomar a iniciativa para uma interação e podes ajudá-la depois a aprofundar ou continuar a conversa a partir daí.