Para começares a trabalhar este objetivo, deixamos aqui algumas estratégias básicas:
Coloca as coisas fora do alcance:
Para dares uma razão à pessoa com autismo para comunicar contigo de alguma forma para obter o que necessita. As coisas que ela mais gosta e/ou pede com mais frequência, podes colocar numa prateleira fora do seu alcance. Assim, é visível para pessoa com autismo e ajuda-a a mostrar-lhe o que quer/precisa, sendo mais fácil para ti modelar a palavra/som que queres trabalhar.
Se a vires a olhar para a prateleira podes dizer “Ai, não sei o que queres, podes dizer? Vou tentar adivinhar!”, e mesmo que saibas o que a pessoa quer, não lhe vais dar logo na primeira tentativa, por exemplo: sabes que ela quer o balão, podes oferecer um puzzle “será que é o puzzle que queres?” e ela vai, por exemplo, afastar/dizer não ou abanar com a cabeça. Podes agradecer por ela estar a mostrar que não quer, e tentar outro objeto… e à terceira vez, ou se vires que ela está a desmotivar, ofereces o balão e podes dizer “Ahhh, era o balão, se não falares demoro mais tempo a perceber, podes dizer “BA” ou “BA-LÃO” e vou a correr buscar!”.
Começa por trabalhar sons/palavras que lhe tragam ações específicas:
Em vez de tentares que a pessoa com autismo diga palavras como “azul” que não tem qualquer tipo de ação para ela e, por isso, será menos motivador para verbalizar.
Responde e celebra todas as tentativas:
Para mostrar que a comunicação verbal funciona, procura responder sempre com uma ação quando a pessoa com autismo comunica verbalmente, fortalecendo a ideia de que “quando eu falo, acontecem coisas e são coisas que eu gosto”. Ao termos reações rápidas e ao sermos responsivos às palavras/sons que a pessoa diz, vais ajudá-la a perceber esta ligação e que efetivamente as pessoas se movem mais rápido quando ela fala e que, por consequência, consegue mais rapidamente o que quer/precisa (este vídeo exemplifica bastante bem esta dica).
Exemplo:
- se a pessoa com autismo faz “a”: “disseste “A”? Queres água? Ok, está aqui, toma “ÁGUA””.
- Se ela aceita a água, celebra e agradece “Boa XX, obrigada por me dizeres o que precisas, gosto muito de te ajudar” → podes dizer com um sorriso, a cantar ou com uma expressão facial mais divertida, por exemplo.
- Se ela rejeita: podes agradecer na mesma, com um sorriso, que ela te tenha mostrado o que não quer e oferecer outra coisa de seguida.
- Se ela diz “não” ou “na”: celebra, está a comunicar verbalmente contigo e a dizer que não quer e isso é fantástico! Celebra e mostra que queres continuar divertidamente a procurar o que ela quer e oferece outras coisas.
- Se ofereceste várias coisas e ela não quer: podes dizer tranquilamente “pois, não sei o que queres, vou deixar-te pensar e se quiseres volta a dizer-me para eu tentar ajudar”.
Dá espaço a silêncios:
Por vezes, quando as pessoas com autismo não comunicam ou pouco comunicam verbalmente, temos tendência a encher os silêncios e a comunicarmos por elas. O que acontece é que com isso estamos a preencher todas as oportunidades que a pessoa poderia ter de comunicar algo com barulho/sons e não deixamos nenhum momento para ela comunicar. Então, seja no dia-a-dia ou nos momentos de um-para-um, dá espaço ao silêncio e vê o que acontece.
Usa a antecipação nas brincadeiras:
É algo que pode resultar bastante bem e ser divertido para a pessoa com autismo. Partilhamos um vídeo para veres e tirares algumas ideias de como podes usar a antecipação para encorajar a comunicação verbal → ver vídeo.
Ajusta a tua comunicação:
Por vezes, utilizamos frases enormes na nossa comunicação – para algumas pessoas com autismo isso pode ser difícil de processar, apesar de haver capacidade para compreender a informação. Então, pode fazer sentido simplificares quando comunicas com a pessoa com autismo, por exemplo em vez de “X, queres cócegas?” ou “Queres mais cócegas?” podes dizer só “Cócegas?” e esperar a sua reação. Assim, tornas também mais fácil a associação da palavra ou som a uma atividade ou ação específica.
Modela:
Sem exigir que a pessoa com autismo comunique verbalmente, podes simplesmente ir modelando essa comunicação – seja com palavras chave, seja acompanhado de uma imagem específica. Podes sempre dar um compasso de espera, para ver se ela tenta verbalizar (mas não criar essa expectativa, colocar apenas o objetivo no modelar). Por exemplo: estás a brincar com as bolas de sabão, podes ter a imagem e sempre que vais fazer mais bolas dizes “bolas” e apontas/tocas na imagem das bolas – sempre com alegria e vendo a reação da pessoa.
Dá entoação:
Diz as nossas palavras-chave com entoação, mostrando bem a boca e exagerando o movimento da boca que fazes para falar.
Começa por palavras pequenas ou sílabas para as palavras grandes:
Começa por trabalhar sílabas/palavras que tragam ações específicas, como por exemplo, no caso das cócegas ou apanhada. Se a pessoa com autismo gosta muito de cócegas, podes começar por trabalhar essa palavra quando estás na brincadeira interativa para a pessoa começar a perceber que, se verbalizar a sílaba/palavra, recebe a ação motivadora que tanto gosta. Podes ir repetindo durante a brincadeira a palavra cócegas e incentivá-la a dizer “có”. Isto é diferente de tentar ensinar-lhe uma palavra como “azul” que não tem qualquer tipo de ação para ela e por isso será menos motivador para ela verbalizar.
Cria brincadeiras interativas com entusiasmo e convicção:
Quando criamos brincadeiras que nós mesmos nos divertimos enquanto as executamos, demonstramos que o que estamos a oferecer é divertido. Ao ver o teu entusiasmo, a probabilidade de a pessoa com autismo querer brincar ao que estás a propor pode vir a aumentar consideravelmente. Para iniciar a brincadeira oferece uma “amostra grátis” da brincadeira, mostrando como pode ser divertido. Assim, também irás perceber se está interessada ou não.
Começa por criar brincadeiras cíclicas: ou seja: ação motivadora → pausa → ação motivadora → pausa.
Exemplo: cócegas, pausa, cócegas, pausa.
Podes definir o objetivo de a pessoa dizer “co” para receber “cócegas” e aos poucos começar a desafiar para “coce” e mais tarde “cócegas”. É importante ajustar o grau de desafio ao que a pessoa com autismo consegue fazer no momento. Depois de criada a brincadeira e de a pessoa estar muito motivada com o que está a acontecer e perceberes que ela quer continuar a interação, podes começar a solicitar de forma leve a comunicação verbal.
Nas primeiras pausas, podes dizer o que queres que ela diga – por exemplo dizer “có”, até à terceira pausa. Dessa forma, a pessoa começa a perceber que o que faz acontecer a ação motivadora é o facto de dizer “có”. Antes e durante a ação motivadora podes ir modelando as sílabas/palavras. A partir da terceira pausa (depois de teres modelado nas anteriores) começa a solicitar para continuar a dar cócegas (exemplo: “se quiseres mais cócegas podes dizer “có””).
Oferece um tempo razoável para a pessoa responder:
Por vezes pode precisar de mais tempo para assimilar o pedido e conseguir responder – e caso não responda e sintas que vai desligar da interação, volta a oferecer-lhe a ação motivadora, mesmo sem ela ter dado resposta, para a manter motivada e dentro da brincadeira. Repete mais uns ciclos de brincadeira e volta a criar pausas e a solicitar. Como podes ver, ao trabalhares a comunicação verbal também estás a trabalhar no objetivo de aumentar o tempo de atenção conjunta e vice-versa. Este é apenas um exemplo, podes fazer com outro tipo de atividade.